José Renato Nalini
A trajetória trágica da humanidade neste século 21 não leva a sério a questão ambiental. Ao contrário, parece regozijar-se com a tendência insana de acreditar que as mudanças climáticas são naturais e não causadas pela perversidade humana. Dendroclastas são exaltados e amigos da natureza são ridicularizados. O rumo da devastação indica brevíssimo caos.
Nada obstante, pouquíssimas cabeças lúcidas podem amenizar as ruinosas consequências da premeditada extinção do verde. E fazê-lo no âmbito daquele espaço em que todos moramos. As cidades têm condições de fazer a diferença, desde que acordem para o gravíssimo risco resultante da insensatez gananciosa.
Há bons exemplos, embora raríssimos. Pessoas que, sozinhas, recompõem um espaço dilacerado e desertificado. Um trabalho heroico de semeadura, acompanhamento da germinação, do desenvolvimento e da consolidação de mudas nativas. Há terrenos baldios que merecem reflorestamento. Afinal, o mundo precisa de um trilhão de árvores e o Brasil de um bilhão, apenas para repor o que a maldade extraiu do ambiente.
Conclamar um grupo de pessoas sensíveis e motivar a comunidade a participar desse projeto salvífico. Sensibilizar as crianças, muito mais abertas a esse clamor do que os empedernidos corações e cabeças-duras que não se importam com o amanhã.
Fazer com que cada rua recomponha a sua arborização. Exigir da Prefeitura a reposição das árvores cortadas ou que aos poucos desapareceram das vias públicas. Promover a coleta de sementes. Premiar os mais bonitos jardins, assim como as ruas mais arborizadas. Recuperar a vocação municipal dos bosques, das áreas verdes, dos parques. Restaurar as matas ciliares, sem as quais os cursos d’água não cumprirão a sua vocação de propiciar a vida ao local.
É insuficiente plantar “uma árvore” no dia da árvore. É urgente atuar no atacado e não no varejo. Ou o mundo acorda para a gravidade da situação, ou o planeta poderá continuar a existir, como deserto, esfera morta, destruída pela raça maldosa que nele se instalou e que não soube proteger a vida dos que viriam depois.
Acordemos enquanto é tempo! O fim está mais próximo do que se esperava!
José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras