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Cuidar de idosos faz bem?

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Mario Eugenio Saturno

Cuidar de um ente querido e conciliar com um trabalho remunerado é um desafio, mas oferece benefícios emocionais, é o que conclui a pesquisa científica “Trabalho como sobrecarga ou melhoria para cuidadores familiares de idosos: Avaliação do bem-estar experimentado ao longo do dia” (Work as overload or enhancement for family caregivers of older adults: Assessment of experienced well-being over the day) das Universidades de Michigan e John Hopkins. As descobertas foram publicadas no “Journal of Marriage and Family”. O estudo nacional do cuidado é financiado pelo Instituto Nacional de Envelhecimento.
Com base no Estudo Nacional dos Cuidadores de adultos mais velhos (National Study of Caregiving), os cientistas descobriram que aqueles que dividem o tempo entre os cuidados familiares e o trabalho pago, ambos de meio período, relataram níveis de bem-estar semelhante às pessoas que tiram o dia de folga de ambas as responsabilidades. Mas as pessoas que cuidam de um ente querido e trabalham em período integral relataram um pior bem-estar. Além disso, alguns trabalhadores em período integral tinham ainda menos qualidade de vida que outros.
Estima-se que 40 milhões de familiares ou outros cuidadores não remunerados nos Estados Unidos prestam ajuda anualmente a idosos com limitações de atividades, incluindo ajudar com autocuidado, tarefas domésticas e médicas (Freedman & Wolff, 2020). Nas próximas décadas, espera-se que a população idosa dos Estados Unidos da América coloque uma pressão crescente sobre os membros da família para reservar tempo para atividades relacionadas ao cuidado de idosos (Schulz & Eden, 2016). Até 2030, o número de idosos deve representar 19,3% da população dos EUA, ante 13,0% em 2010 (Vincent & Velkoff, 2010).
Cerca de metade de todos os cuidadores que prestam assistência a idosos também trabalham e muitos o fazem em tempo integral, potencialmente “apertando” os cuidadores entre as demandas de trabalho e família (Pavalko, 2011; Schulz, 2020; Schulz & Eden, 2016).
Os cuidadores que trabalham podem ser ainda mais prejudicados no contexto dos EUA pelos altos custos de cuidados de longa duração que proíbem o acesso mais amplo aos serviços de cuidados pagos e pelos incentivos que podem prender os trabalhadores aos empregos para manter o acesso aos benefícios de saúde (Schulz, 2020; Schulz & Eden, 2016). Além disso, nos Estados Unidos, as políticas públicas e privadas destinadas a ajudar as famílias a equilibrar os dois compromissos têm sido relativamente limitadas em escopo e políticas como a Lei de Licença Médica Familiar (FMLA) não se aplicam a todos os trabalhadores e geralmente não são remuneradas (Schulz, 2020; Wolff et al., 2019).
Há muitas informações que os criadores de políticas públicas podem adquirir no “paper” e trazer para o Brasil para saber como enfrentar o problema. É preciso lidar com a falta de flexibilidade no trabalho de tempo integral ou noturno. Os dados para o estudo foram coletados em 2017, antes da pandemia Covid-19, que colocou em foco os problemas de equilíbrio entre vida profissional e o bem estar.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano