Mario Eugenio Saturno
A pobreza é um fenômeno antigo, tão remoto quanto a humanidade e podemos entender como a falta de recursos para a sobrevivência. Podemos imaginar comunidades pobres ou um povo com desigualdade social grave, coisa que encontramos até em animais que vivem em bando, como os chimpanzés, cada macaco tem sua posição hierárquica, especialmente na divisão da comida.
Nos seres humanos a pobreza está correlacionada com o domínio das técnicas de caça ou de produção agrícola e criação de animais. Isso é uma vantagem utilizada para explicar a expansão do homo sapiens contra a retração do homo neanderthalensis.
A organização da sociedade humana criou as castas, uma hierarquia de poder, a parte mais baixa não tinha nem direito ao próprio corpo, os escravos. Então, surgiu Abraão, lá pelos anos 1900 a.C., precursor da religião conhecida como judaica. Dentre os judeus (ou galileus) nasceu Jesus que fundou sua religião treinando e ensinando doze discípulos, chamados apóstolos (do grego apostalai que significa enviar). Mais 18 séculos e essa igreja cristã, nominada Igreja Católica (do grego cat holos, que significa para todos), inicia sua revolução social e cultural, colocando o ser humano no centro dos interesses sociais, políticos e econômicos.
Hoje, é incompreensível que nações ricas tenham tanta pobreza entre seu povo. O que vemos na Europa pode sim ser replicado dentro de limites aceitáveis e acabar com o primeiro grande problema que é a distribuição da riqueza da pátria, ou seja, uma política de salário mínimo compatível e empregos de qualidade.
Um grande mito a derrubar é o do salário mínimo (SM), se ele dobrar quem ganha de cinco a dez salários mínimos teria dificuldade em pagar as empregadas domésticas que perderiam seus empregos. Oras, bolas! Se dobrar o SM, o impacto (necessidade de aumento) em quem ganha cinco SM será de 20%, nos que ganham 10 SM, 10%, e nos que ganham vinte, 5%. Com essa política geral, de escalonamento proporcional, consegue-se em até dois anos ajustar a economia, afinal pobre usa seu salário para alimentos, moradia e serviços básicos, tudo que a produção agrícola e industrial nacional consegue atender.
Embora tenhamos um aumento de empregos e produção, temos o mito que as prefeituras não aguentariam a pressão econômica de dobrar o SM. A verdade é que essas prefeituras já desperdiçam dinheiro, querem autonomia, mas não têm como sustentar sua liberdade. Isso não é compatível com um povo famélico, sem moradia, sem saúde, sem previdência decente.
É preciso qualificar a mão de obra, mas também é preciso remunerar adequadamente. Os salários pagos no Brasil estão muito abaixo de países que são exemplos de justiça social. Na outra ponta, os pobres pagam mais pelos mesmos produtos. Talvez até haja espaço para estimular novos serviços que barateiem produtos. E não esqueçamos a segurança pública, afinal, quem mais sofre com roubos e extorsões são os pobres.
Embora muita coisa dependa da boa vontade e inteligência dos representantes (deputados, senadores etc.), muitos projetos podem ser executados por empreendimentos particulares ou cooperados.
Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano