Mario Eugenio Saturno
Todo o mundo tem uma noção dos danos que o abuso de álcool faz ao indivíduo e à família, mas poucos sabem dos custos ao país. Aliás, muitos que abusam do álcool, fazem-no crendo que “bebem socialmente”. Isso é o que vem demonstrar o artigo científico “Análise da intensidade do consumo de álcool diário e das consequências físicas agudas” (Daily-level analysis of drinking intensity and acute physical consequences) publicado na revista científica “Addictive Behaviors”.
O uso de álcool entre adultos jovens está associado a uma considerável morbidade e mortalidade, e o mau uso do álcool custa aos Estados Unidos da América 249 bilhões de dólares anualmente (Hingson et al., 2009). O consumo de álcool em alta intensidade (há diversas definições para dose, em torno de 10g de álcool na bebida, que demora cerca de uma hora para o organismo digerir) de 8 ou mais doses para mulheres e 10 ou mais para homens (Patrick e Azar, 2018) é uma forma prejudicial e custosa de consumo de álcool (Sacks et al., 2015, entre outros) e que é comum na idade adulta jovem (Terry-McElrath e Patrick, 2016, Patrick et al., 2016).
Estudos têm constatado que aqueles que consomem álcool em excesso (consumo de 4 ou mais doses para mulheres e 5 ou mais para homens) têm maior probabilidade de experimentar lesões acidentais, desmaios e ressacas (Krieger et al., 2018, Naimi et al., 2003, entre outros). Além disso, aqueles que se envolvem em consumo de alta intensidade têm maior risco de desenvolver sintomas de desordem (Linden-Carmichael et al., 2017, Patrick et al., 2021) em comparação com aqueles que consomem álcool em excesso ou em menor quantidade. Portanto, é importante identificar os riscos distintos do consumo de alta intensidade em comparação com o consumo em excesso.
Usando uma amostra universitária, desmaios e ressacas eram mais prováveis em dias de consumo de alta intensidade em comparação com dias de consumo em excesso (Linden-Carmichael et al., 2018). No entanto, poucas pesquisas se concentraram especificamente em diferentes tipos de consequências físicas agudas, e nenhuma examinou essas associações em uma amostra nacional de adultos jovens.
Consequências físicas agudas são especialmente importantes de se examinar, pois podem levar a danos graves. Por exemplo, apagões e desmaios aumentam significativamente o risco de overdose, lesões e agressão sexual (Carey et al., 2015, Hingson et al., 2016, entre outros), e ocasiões de apagões estão associadas a mais consequências negativas do que ocasiões de consumo sem apagões (Devenney et al., 2019). Outras consequências físicas agudas, como ressacas e náuseas, também podem levar a um prejuízo cognitivo e físico substancial nos dias seguintes (Prat et al., 2008, e outros).
E aí, confirmado o “happy hour” de hoje? Happy? Não! Infeliz quem bebe álcool em quantidade, mesmo que seja apenas um dia na semana. Infelicidade para si mesmo e para sua família. Segundo a Fiocruz, em 2015, o Brasil tinha 2,3 milhões de alcoólatras, ou 1,1% da população. Um problema social que merece ação por políticas públicas.
Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano