Com mais de 20 anos de atraso, Carapicuíba recebe novo viaduto para tentar desafogar trânsito na região central da cidade
Objeto dos antigos “sonhos” do ex-prefeito Fuad Chucre; tendo passado pela previsão de construção em duas administrações do também ex-prefeito Sergio Ribeiro (PT); somente agora, em outubro de 2024, no antepenúltimo mês dos oitos anos de administração do atual prefeito Marcos Neves (PSDB) é que, finalmente, o alardeado “artifício” que pretende desafogar o trânsito de veículos na região central de Carapicuíba será entregue à população.
A obra, um viaduto que parte da entrada da cidade, passando por sobre a via férrea da antiga CPTM (atual Via Mobilidade), atravessando a área hoje destinada ao polo educacional da cidade (o que já fora o antigo lixão de Carapicuíba) em sentido ao bairro do Tamboré, em Barueri; ou à rodovia Castello Branco; será inaugurada neste sábado, 19 de outubro.
ANOS DE ATRASO
Inicialmente chamado de “Viaduto Corredor Oeste”, a obra faz parte justamente do projeto do governo do Estado de São Paulo em dar configuração final ao que se chama atualmente de Corredor de Transporte Metropolitano Itapevi-São Paulo, mas que foi criado ainda na gestão do antigo e já falecido governador Mário Covas, entre o final da década de 1990 e os anos 2000, chamado de Corredor Oeste. Desde o início deste século, portanto, o governo do Estado se habilita em finalizar tal obra, mas a inauguração do novo viaduto em Carapicuíba ainda não a encerra e, em sua nova etapa na cidade, prevê revitalização do trecho de aproximadamente 2,2 quilômetros de extensão entre a avenida governador Mário Covas (no Centro), passando pela avenida Desembargador Dr. Eduardo Cunha de Abreu e chegando até a avenida dos Autonomistas, já na divisa com Osasco (e vice-versa).
A notícia de execução do projeto do viaduto foi dada em 2022 pelo ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB). Ele esteve na cidade no dia 26 de junho de 2022, quando autorizou o início das obras, sob responsabilidade da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Naquela época, o governo do Estado informava que o investimento total previsto na ação era de R$ 66,9 milhões e que a previsão de entrega era o final do ano de 2023, ou seja, quase um ano de atraso.
Um mês antes da visita do ex-governador, em maio de 2022, a Prefeitura de Carapicuíba promoveu a desocupação de uma grande parte de moradias estabelecidas na Vila Municipal, para dar lugar às obras do novo viaduto.
De um total de 1.294 famílias que moravam no bairro às margens da avenida, 406 delas foram desapropriadas e tiveram suas residências imediatamente demolidas, para liberar uma área de aproximadamente 23 mil metros quadrados necessários para a obra.
A cerimônia de inauguração, neste sábado, 19/10, está marcada para começar às 9 horas, na confluência do próprio viaduto com a avenida Desembargador Dr. Eduardo Cunha de Abreu, altura do número 575, na Vila Municipal. Além do prefeito Marcos Neves e demais autoridades municipais e regionais, é aguardada também a presença do governador Tarcísio de Feitas (Republicanos), mas tal informação ainda não havia sido confirmada por sua assessoria até o fechamento desta edição, na quinta-feira, dia 17.
A (falta de) “engenharia” de tráfego de Carapicuíba
Historicamente, a primeira e talvez a mais importante obra de engenharia de trânsito em Carapicuíba foi erigida na década de 1980, quando o prefeito era Luiz Carlos Neves (pai do atual prefeito Marcos Neves). Naquela época, a construção da ponte sobre o rio Tietê pelo governo estadual fazia a tão desejada ligação do município com a rodovia Castello Branco, considerada fundamental para a evolução econômica da cidade. Curiosamente, como o rio Tietê serve como divisa entre Carapicuíba e Barueri, metade do Viaduto Piracema pertence geograficamente a cada uma das cidades e, por isso, nem pode ser considerado um equipamento exclusivamente carapicuibano.
A evolução do município foi possível com tal ligação, mas com o passar dos anos se mostra superada em razão do crescente tráfego de veículos com acesso à própria rodovia e aos bairros baruerienses do Tamboré e do Alphaville.
O Corredor Oeste, na outra ponta e cruzando o Centro da cidade – ligando em quase linha reta os municípios de Osasco, Carapicuíba, Barueri, Jandira e Itapevi – foi a solução apontada pelo então governador Mário Covas (PSDB), no final da década de 1990 e início dos anos 2000. Naquela época, Fuad Chucre (PSDB) começava a cumprir seu primeiro mandato como prefeito (1993 a 1996) e ajudava o governo estadual a alardear a importância do Corredor Oeste.
Já durante seus 2º e 3º mandatos (2001 a 2008) Fuad anunciava o projeto de construção do viaduto como forma de diminuir o trânsito na região central, e, falecido em 31 de janeiro de 2023, viu a ideia do seu “Novo Centro” se transformar num sonho.
O prefeito seguinte, Sergio Ribeiro (PT) também cumpriu dois mandatos como prefeito (2009 a 2016) e, contando com tal obra, autorizou e ajudou o governo do Estado a cometer o primeiro grande erro de engenharia no Centro da cidade, com a ampliação do Terminal Rodoviário Municipal e a instalação do Terminal Regional, um ao lado do outro. Com o propósito de melhorar a vida dos usuários dos trens da então CPTM, os novos terminais ocuparam enorme espaço sobre o próprio Corredor Oeste (avenida Mário Covas) e, numa atuação sem lógica, criou uma curva para que os veículos seguissem pela frente da estação férrea, afunilando o tráfego de veículos e atrapalhando também o fluxo dos pedestres pelo local.
Com anos de caos no trânsito central, o prefeito Marcos Neves também passou a contar com a obra do novo viaduto mas, enquanto isso, vem tentando aplicar soluções nada convencionais na ligação entre o próprio Corredor Oeste e o acesso ao bairro Vila Gustavo Correia e à rodovia Castello Branco, passando sobre a linha férrea pelo viaduto Jorge Joulian e rua da Consolação. Criou uma alça de acesso da avenida Deputado Emílio Carlos ao viaduto Jorge Joulian, implantou um cruzamento esquisito no sentido oposto criando ainda mais complicações na avenida Mário Covas, contribuindo sobremaneira para que o caos ficasse insuportável.
A única saída aparente será justamente a liberação do novo Viaduto Corredor Oeste, neste sábado, 19/10, já que ele irá retirar da região central justamente os veículos que partem em direção (ou no sentido contrário) à rodovia Castello Branco e aos bairros do Tamboré e Alphaville.
Entretanto, nem a Prefeitura, nem o governo do Estado prepararam qualquer outra alternativa para que tais veículos transponham o rio Tietê; o que permite acreditar que todos os automóveis oriundos dessa nova via irão afunilar na entrada daquele primeiro viaduto, o Piracema, construído nos idos de 1980, origem de toda esta história.
Certamente outros problemas já se avistam num futuro não muito distante.
