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A reinvenção da escola

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José Renato Nalini

A pandemia sacudiu a vida dos que não soçobraram e forçou a revisão de quase tudo. Um dos setores mais afetados foi a educação formal. Aquela rotina de mandar os filhos à escola viu-se abruptamente interrompida e as crianças ficaram em casa.
A promessa de aulas pela internet foi uma tentativa. Necessária, porém insuficiente. O governo não levou a sério a emergência de outras estratégias de preparo das novas gerações, a partir da Quarta Revolução Industrial. Negligenciou a implementação de banda larga em todas as escolas. Boicotou um livro digital praticamente pronto, a despeito de constatar que a dispendiosa logística de impressão anual e de entrega a milhões de alunos, esbarrava em dificuldades evidentes. Como a reação de um alunado adolescente, que jogava o kit assim que o recebia, chamando-o de “kit favela”.
O resultado é que praticamente 70% dos estudantes da rede pública em São Paulo não conseguiram receber o conteúdo previsto na legislação como o necessário para as etapas seriadas do ensino oficial.
Lição a se extrair disso: oportunidade para refletir que a escola precisa ser repensada. O professor valorizado. E incentivado a estar atualizado com as novas tecnologias. Há os que já fazem isso, a duras penas. Com sacrifício pessoal e dispêndio de recursos próprios.
Nesse ponto, os jovens estão anos luz à frente. Por isso encarei como imprescindível liberar o uso pedagógico do celular. Não fora isso e muita gente ainda estaria sem condições de acessar as aulas virtuais.
Agora é assumir que o retorno às aulas nunca será igual. O desafio de recuperação do tempo ao menos parcialmente perdido. As estratégias de tornar assimilável em menor tempo um contingente maior de matéria. Tratar cada caso como deve ser tratado, quase que uma aula particular, pois as pessoas são diferentes, têm percepção distinta, aproveitamento singular e não podem ser tratados como grupo homogêneo.
Ouvir mais os educadores, os que têm boas práticas, servir-se dos próprios alunos, dentre os quais, alguns mais treinados e estudiosos, têm condições de ajudar os colegas mediante resolução individual dos problemas. E tudo isso, mediante uso mais intenso das redes sociais, caminho sem volta. Pois haverá os pais que hesitarão em mandar seu filho à escola, de medo de uma contaminação muito provável, pois o vírus está aí, à espreita dos incautos.
Repensar também a proposta precocemente abortada de uma educação no lar. Eficiente para famílias cujos chefes têm condições de acompanhar o desenvolvimento intelectual da prole, capazes de suprir a socialização escolar com o convívio entre pessoas com grau análogo de interesses e de concepção de vida. A velha regra dos “pássaros de igual plumagem”. Algo natural à criatura racional, que tem o direito de selecionar amigos, ao contrário da família, imposição genética e fatalista.
Revisitemos e reinventemos a educação. É a única alternativa para o Brasil se reerguer depois desta formidável queda em tudo aquilo que nos pareceu importante antes do Covid 19.

José Renato Nalini é advogado, professor e presidente da Academia Paulista de Letras