Antonio Carlos Lopes
Completamos, em 23 de julho, 500 dias desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da Covid-19. Desde então até hoje, perdemos cerca de 550 mil vidas: pais, mães, avós, filhos, amigos. Tempos de tristeza e dor.
Muita coisa mudou nesse período. Algumas até parecem pequenas, mas apontam para um mundo de mais cuidado com a saúde e com o outro. Entre elas a incorporação da higienização das mãos e a conscientização da importância do uso correto de máscaras por grande parte da população. São avanços em termos de cidadania, de mais respeito e de solidariedade.
A um custo alto demais, o próprio sistema de saúde deu passos à frente; pequenos, porém, andou. Hoje, a despeito de inúmeros problemas recorrentes e graves, a rede está mais robusta nos quesitos estruturação e organização. Contudo, bem longe das necessidades dos brasileiros, em especial dos mais vulneráveis socialmente.
Outras vicissitudes seguem como dantes. A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid deixa bem claro todos os dias que a corrupção é opção preferencial de parte da classe política e de maus empresários. Corruptores e corrompidos de primeira hora continuam se refestelando às custas da miséria e do atraso do Brasil.
Também se mantém insaciável a gula arrecadatória do Estado, conforme tem alertado a Associação Médica Brasileira, com vistas a defender os cidadãos, os pacientes. Neste exato momento, tramitam em Brasília diversas propostas ao estilo Robin Hood às avessas de Reforma Tributária.
Em vez de buscar mais transparência aos impostos, de acabar com cobranças em cascata e de aliviar a carga dos contribuintes, essas proposituras elevam tributos a quem produz, a quem gera emprego e chegam à perversidade de aumentar os custos dos serviços médicos e de saúde em até 100%.
Caso venham a ser aprovadas, redundarão no fechamento de clínicas e consultórios, no desemprego de médicos, enfermeiros, instrumentistas, entre outros, elevarão despesas de pacientes e agravarão a desassistência.
Enfim, mais uma punhalada no peito de uma nação que ainda amarga o luto de meio milhão de mortes. Peço licença, mas preciso registrar: temos de organizar e resistir, o mal não pode prosperar e vencer.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica