José Renato Nalini
Tenho ouvido muitas críticas voltadas à internet. De pais que, em tempos de pandemia, não conseguem fazer com que seus filhos deixem os celulares, os quais ficam sob as vistas das crianças enquanto comem, na hora do banho e até na hora de dormir.
Sabem que o momento é muito peculiar e que seria uma audácia privar as crianças desses instrumentinhos mágicos, que as mantêm absortas, desligadas da vida, completamente dominadas pela telinha.
Outro nível de indignação é o dos que já não aguentam tanto ódio destilado em memes, mensagens, pequenos filmes, falas iradas de indivíduos que perfilham um dos polos do antagonismo para detonar o outro polo.
Compreensível a queixa. Mas a internet veio para ficar e o ideal é encontrar fórmula de extrair dela o que é bom. E há muita coisa boa. O exemplo dos livros já em domínio público seria suficiente. Não lê, hoje, quem não quer ou não tem vontade. Um clique e há milhares de ofertas de excelentes obras. Todas acessíveis e gratuitas.
Filmes, documentários, óperas, peças de teatro, lives. Tudo oferecido a quem queira se distrair durante o confinamento. É óbvio que ainda precisamos educar o usuário dessas bugigangas eletrônicas, para que elas sirvam para boas causas, não para destruir reputação alheia.
É preciso que haja filtragem das notícias, porque há muita falsidade, mentira ou, o que é pior, meia verdade a circular impunemente. Apagar aquilo que agride é uma boa tática. Não passar adiante. Não contribuir para que o Brasil seja convertido numa arena de luta, quase sempre cruel e de péssimo gosto.
O eleitor precisa ficar preparado e não embarcar nas inverdades que, de tão repetidas, podem parecer verazes. É urgente que existam sites de conferência e verificação do que se veicula, para que só receba o selo da veracidade aquela notícia que passou pelo controle de um órgão credenciado.
Se o arcaísmo não tivesse predominado em certos ambientes estatais, o Brasil estaria bem adiantado em recursos da informática, da eletrônica, da cibernética, para oferecer à sua cidadania, principalmente às novas gerações, serviços confiáveis e realmente transformadores.
Seja como for, as redes sociais vão permanecer e teremos de conviver com elas, aparando seus malefícios e extraindo os benefícios potenciais, que ainda não foram inteiramente implementados.
Se você pensa que ela é ruim, saiba que, sem ela, o mundo seria pior. Estaríamos ainda mais longe do ideal civilizatório e do padrão de vida do Primeiro Mundo.
José Renato Nalini é reitor universitário, professor e presidente da Academia Paulista de Letras