Ao afirmar que ‘se manter nesse patamar é difícil’, Gerson Pessoa avalia alternativas para continuidade do crescimento de Osasco
Nos últimos anos, a cidade de Osasco vem se destacando no cenário nacional por ter iniciado uma transformação em seu perfil econômico, que tem se caracterizado pela chegada de grandes e importantes empresas do ramo da tecnologia e inovação. O próprio prefeito Rogério Lins (Pode) vem enaltecendo essa transformação e incrementando investimentos para que o município realmente se transforme num modelo de polo tecnológico, chegando a chamar a cidade de “Oz Valley”, em referência ao Vale do Silício, modelo mundial desse tipo de concentração de empresas, localizado na Califórnia, Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, quem também começou a ganhar destaque nesse sentido foi o atual secretário municipal de Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Econômico, Gerson Pessoa, que assumiu o posto em 29 de julho do ano passado. Mesmo em meio à pandemia de Covid-19 e à crise econômica mundial, Gerson chegou com “carta-branca” e vem recebendo apoio incondicional do prefeito para desenvolvimento de ideias e ações que pretendem acelerar esse novo perfil à cidade.
Amigo antigo do prefeito, ex-sócio de uma pequena empresa de informática ainda quando ambos não haviam ingressado no serviço público e gozando de tamanho prestígio no comando de suas ações, Gerson Pessoa já é visto como eventual pré-candidato a deputado estadual já na eleição deste ano, com apoio do prefeito e toda a cúpula administrativa.
Para falar sobre suas ações à frente da Secretaria e responder às especulações sobre sua entrada na política, Gerson Pessoa esteve no início desta semana, terça-feira, 22, na sede do jornal Página Zero, onde foi atendido pelo editor e diretor Marco Infante, e para quem concedeu entrevista exclusiva.
Os principais pontos do encontro estão assim resumidos:
PÁGINA ZERO: Você hoje representa os valores de tecnologia e modernidade de Osasco. Mas essa condição vem de onde, de quem?
GERSON PESSOA: Um grupo de pessoas vem elaborando e procurando maneiras de identificar a vocação da cidade, para que tenhamos a possibilidade de, num futuro bem próximo, a condição de proporcionar melhores condições financeiras para o município. E esse futuro chegou: conseguimos colocar no planejamento e em prática. É a construção, de fato, de um projeto que teve origem na gestão anterior da Prefeitura e que, assim que assumi a convite do Rogério, tive a condição de me aproximar da área de tecnologia. Continuamos investindo na vocação da cidade, que é de trabalho, mas que mudou do perfil industrial, agora para o tecnológico.
PZ: Osasco está aparentemente comemorando, enquanto o resto do país e o mundo reclamam da crise. Não há crise na cidade?
GERSON PESSOA: Osasco, com certeza, enfrenta as dificuldades do Brasil como um todo. O que muda é que nesse momento, em decorrência de uma condição financeira um pouco melhor, a gente consegue avançar em alguns pontos que outros municípios não conseguem. Um pouco dessa construção, lá atrás, quando começamos a investir principalmente em tecnologia, o prefeito Rogério Lins teve a convicção de que tecnologia é investimento, não é despesa.
Por isso, conseguimos modernizar toda nossa estrutura e conquistar a confiança da primeira empresa da área que chegou ao município. A garantia dos compromissos acabou atraindo as demais e até a pandemia favoreceu, já que, voltadas para o atendimento do público que começava a necessitar de seus serviços, ampliaram e começaram a crescer dentro da cidade. O município, lógico, tirou proveito disso, com ampliação de mão de obra, etc.
PZ: A redução de impostos ou a disponibilidade de áreas são fatores que hoje jogam a favor. Mas, como continuar nesse ritmo?
GERSON PESSOA: Nós tivemos duas mudanças construídas pelo governo: a redução tributária de 5% para 2% para as empresas de tecnologia e a modernização do parque tecnológico. Os demais atributos são decorrentes da própria cidade, como a localização privilegiada, próxima da Capital, dos principais aeroportos, rodovias e até a acessibilidade, cujo sistema viário interliga toda a Região Metropolitana.
Osasco é a quinta cidade mais densa do país; pessoas não faltam e, na hora de se adquirir mão de obra, isso também é uma vantagem. Por fim, vem a confiança na gestão: o que a administração pública prometeu para a chegada dessas empresas, está cumprindo.
Toda essa modernização trouxe inclusive outros fatores positivos, como a questão da segurança, por exemplo: isso tudo foi primordial na decisão das empresas virem pra cá.
PZ: Você fala da modernização e da modernidade do Parque Tecnológico. Onde está esse Parque Tecnológico?
GERSON PESSOA: É toda a infraestrutura de tecnologia da Prefeitura. Seja ela no Data Center, localizado lá no nosso Centro de Operações Integradas; um outro que a gente instalou aqui na Secretaria de Finanças e ainda um terceiro ambiente em nuvem; todos eles se comunicando, criando ambientes de redundâncias, performances e transparências. Poucos enxergam, mas é um ambiente ali à disposição de todos. Só como exemplo, havia muito funcionário público que sequer tinha equipamento adequado para trabalhar. A gente procurou o que havia de melhor no mercado, mantendo o serviço na atualização dos equipamentos e também suporte para todo o processo. Como isso, temos a garantia de que sempre teremos a melhor tecnologia disponível para os funcionários.
Temos hoje, senão o melhor, um dos melhores Parques Tecnológicos da região.
PZ: E aí surge a notícia de que você tem um projeto para a criação de um polo tecnológico na cidade. O que é isso?
GERSON PESSOA: Para conseguirmos chegar num patamar onde hoje nos encontramos, assim foi feito com muito trabalho, muita persistência. Se manter nesse patamar é difícil. Então, pra isso, temos que procurar meios para que a gente possa, de alguma forma, oferecer novas características do município para manter essas empresas e continuar atraindo novas.
Foi aí que tivemos a ideia de pensar num polo de tecnologia, com diversos objetivos: estimular as startups; oferecer um mínimo de estrutura para quem não tem condições; coworking; ambiente de relações entre as empresas com eventos network, espaços de entretenimento; e batendo forte na questão da qualificação das pessoas, que é uma necessidade hoje não só do município, mas do mundo. Hoje em dia falta profissional qualificado no mundo inteiro, isso temos visto em visitas às empresas que necessitam desses profissionais e hoje ‘importam’ essa mão de obra.
Visitamos os principais polos de tecnologia no Estado e no país, como em Campinas, São José dos Campos, Santos, o Porto Digital do Recife, Florianópolis; nesses locais procuramos tirar as experiências negativas e trazer para cá, para o nosso polo, as ideias positivas e que deram certo pra erramos menos na nossa construção.
Percebemos, com tudo isso, que só a iniciativa do poder público não adianta; é necessário um tripé funcionando, unindo as forças do poder público, da iniciativa privada e das academias e universidades. Esse é o melhor formato para construirmos um profissional e entregá-lo da melhor forma para o mercado de trabalho. Já estamos fechando parcerias com algumas das maiores empresas de tecnologia, para produzir mão de obra para o que aquelas que estão no município necessitam: estamos falando de algumas maiores fabricantes do mercado, como a Apple, a Microsoft, o Google, Oracle e Cisco.
Na prática, essas empresas ofereceriam os cursos para formação, enquanto nós forneceríamos toda a infraestrutura para que eles se desenvolvam.
PZ: E será esse o papel do polo? Fisicamente, como ele está sendo pensado?
GERSON PESSOA: A ideia é levar toda essa estrutura para o bairro do Bonfim, onde está sendo levantado um prédio que, inicialmente, estava programado para receber o Paço Municipal. Já há um distrato nesse sentido e o Paço não irá para lá, mas pretendemos, em parceria com a iniciativa privada, a utilização do espaço. Pretendemos criar um bairro moderno, um bairro inteligente, um bairro tecnológico, o novo Bonfim.
Enquanto isso não ocorre, já estamos finalizando o processo para levar o polo para um prédio localizado na Vila Yara. Já há um espaço de 3 mil metros quadrados para que ali seja, nesse momento, o nosso polo de tecnologia, junto com a Secretaria de Tecnologia. O espaço que não for utilizado pela Secretaria será já para servir às necessidades do polo, numa escala menor, mas já atendendo a essa expectativa por parte das empresas.
Para a ida ao Bonfim precisamos cumprir uma série de burocracias legais, como mudança da lei de zoneamento, por exemplo, mas nosso objetivo é concluir tudo isso até o final do mandato do Rogério, em 2024.
PZ: E a política? Você é tido como virtual pré-candidato a deputado estadual, inclusive com apoio do prefeito Rogério Lins. Com você vê essa possibilidade, esse projeto?
GERSON PESSOA: Temos discutido muito a possibilidade de apoio a dois nomes que são importantes para a cidade, ocupando as cadeiras de deputado federal e estadual. O meu nome foi cogitado para ser um desses representantes com apoio do governo. Nunca tive pretensão política e nem vaidade pelo poder; mas sou de um grupo que a gente quer tê-lo cada vez mais fortalecido e, por que não, pensar em voos maiores?
Diferente do que foi em 2018, o governo tem total interesse em apoiar a candidatura única na cidade, para de fato a gente conseguir canalizar forças pra proporcionar algo melhor para a cidade em que a gente convive.
Nós avaliamos que estamos fazendo muito e de forma correta, porém até agora 100% com recurso próprio, seja ele humano ou financeiro. O propósito de canalizar as atenções numa só candidatura é para que possamos ter acesso a programas de âmbito federal ou estadual, como por exemplo, através de emendas parlamentares. Tudo o que chega de fora, até agora, é muito pequeno diante do total de investimentos realizados pela cidade. Se tivermos alguém que, de fato, fale a língua da cidade, essa pessoa vai estar, de alguma forma, canalizando mais recursos através de emendas e programas que são lançados constantemente nessas duas esferas: no Estado e no país.
Se o governo está, até agora, numa crescente, com recursos 100% próprios, se tivermos esse braço apoiando, a gente vai ter, com certeza, um final de segundo mandato do Rogério muito melhor que o primeiro.
Graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Uniban e com pós-graduação em Gestão Pública, Gerson Pessoa tem 39 anos de idade, é casado e pai de dois filhos.