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Volta à normalidade exige pacificação

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

A cada dia temos mais razões para crer que a Covid-19 já pode ser tratada como coisa do passado, mesmo o vírus ainda presente e provocando adoecimento e morte. Basta continuar de máscara, lavando as mãos e evitando aglomeração até ter a certeza da imunidade vinda da vacina e do cumprimento do prazo de seu efeito. A notícia da volta à normalidade de brasileiros residentes em países com maior avanço na eliminação da pandemia e vacinação em faixa mais ampla da população, somada ao “boom” do minério de ferro aqui no Brasil, que fará o setor crescer 29% em relação ao ano passado e tem novos projetos se desenvolvendo em 81 cidades de 14 estados, demonstram que a economia segue seu curso. Some-se a isso a perspectiva da safra agrícola de 260 milhões de toneladas, um aumento de 4,2% em relação à anterior, que deverá alimentar a população e gerar excedentes exportáveis. O mundo tem fome, e nós temos comida.
O Brasil tem de ser compreendido como um excelente e viável país. Apesar dos transtornos causados pela crise sanitária, as atividades que não sofreram a influência direta e inibidora vêm respondendo com vigor. É preciso agora que Executivo e Legislativo acelerem as reformas do Estado para que a máquina pública e sua relação com a sociedade ocorram de forma a incentivar o trabalho, o emprego e a atividade econômica de diferentes setores e todos os brasileiros possam tirar algum proveito e viver melhor em função da boa produtividade. Temos, por exemplo, de incentivar a indústria – inclusive a pequena e média – para transformar boa parte de nossas commodities e, em vez de vendê-las na forma bruta, termos a condição de colocá-las no mercado como manufaturado. Com isso lucraremos tanto pela agregação de valor às mercadorias quanto com a geração de empregos nas cadeias de produção e transformação. Nada contra a China e outros países, mas em vez de só enviar matérias-primas para eles processarem e criar empregos nos seus territórios, sempre que possível, atraí-los ao Brasil para aqui instalarem suas indústrias e, inclusive, absorverem, ao lado dos brasileiros, o grande número de trabalhadores chineses e de outras nacionalidades que já vieram ou ainda venham para nosso país em busca de melhores oportunidades.
O governo, na medida do possível, deve se desfazer de empresas estatais ou mistas que operam no vermelho e, principalmente, daquelas que têm servido de cabide de empregos, troca como moeda política e saqueadas pela corrupção. O Estado Brasileiro – União, Estados e Municípios – não deve ser empresário. Isso só foi válido na fase de implantação da infraestrutura, quando nenhum particular tinha interesse ou capital para instalar negócios tidos como estratégicos. Depois do empreendimento funcionando, o correto é que tudo seja privatizado e o poder público exerça exclusivamente o licenciamento e a fiscalização das atividades, via agências despolitizadas. Até 2019 se acreditava que o governo federal possuía 138 empresas. Porém, nos dois anos e meio que se passaram, concluiu-se que há dinheiro público em 600 empreendimentos e este precisa ser redirecionado ao erário para com ele se prestar serviços hoje negligenciados à população. As privatizações mais próximas em tramitação pelo Congresso Nacional são dos Correios e da Eletrobrás.
No momento da retomada da economia, os políticos têm, também, grande responsabilidade. É preciso parar com a guerra eleitoreira onde oposicionistas tentam derrubar o governo e governistas pregam o extermínio da oposição. Ambos perdem credibilidade perante a população que sofre pela máquina emperrada. Situação e oposição são componentes naturais do quadro democrático. O anormal é o regime permanente de campanha eleitoral e – o pior – a polarização onde ambos os lados tratam-se como se bandidos fossem. Gastem suas energias em favor do progresso, não da destruição do adversário.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)