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Quando os professores eram respeitados

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Humberto Pinho da Silva

Queixava-se, em São Paulo, senhora idosa, que os motoristas de ônibus (autocarros) quando viam no ponto (paragem) idosos, não paravam.
Nos nossos dias, o velho é considerado, por muitos, um improdutivo, um parasita que não merece consideração, nem respeito.
Sempre que viajo de autocarro reparo que os passageiros, em raras vezes, cedem os lugares a idosos e grávidas.
Lembro-me – como me lembro! – que vindo do liceu Alexandre Herculano – após atravessar, em diagonal o aprazível jardim de São Lázaro – para esperar o eléctrico número 13, na Rua Duque de Loulé, diante do edifício onde funcionou o Centro Artístico Portuense, de ter presenciado a seguinte cena:
O veículo inundara-se de alunos dos dois liceus: o “Alexandre “ e o “Rainha”.
No momento da partida, velhinha, vestida de preto, aproximou-se, e a custo, amparada por bengala toda negra, entrou.
Vendo que o eléctrico estava repleto, ficou na plataforma, junto ao guarda-freio, com visível dificuldade.
Então, o Dr. Balacó, professor do “Alexandre”, batendo sonoras palmas, disse, em alta e bom-tom:
– “Não há aqui aluno, do liceu, que dê o lugar à senhora idosa?! Todos se ergueram; envergonhados pela falta de educação.
Passou-se essa cena nos anos cinquenta, quando ainda havia respeito pelo professorado e vergonha na cara.
Se o caso ocorresse agora, o docente seria vaiado e quiçá, ridicularizado; se não fosse “praxado”, como aconteceu a professor, em Guimarães, ao reprovar a prática de “doutores”, que praxavam caloiros.
A ausência de educação é notória em todos os meios, até nas classes que, tradicionalmente, primavam pela delicadeza do trato e pelo modo de se exprimirem.
A sociedade, nesse campo, igualou-se pela ralé. Há “doutores” cujas maneiras mais parecem “saleiros” (do tempo da juventude de meu pai), do que classe que se julga, muitas vezes, superior,
E pena é que seja assim. É pena porque as palavrinhas que lubrificam as relações interpessoais como: “ Obrigado”;” Não tem de quê”;” Com prazer”;” Por favor”;”Por cortesia”, servem para olear, suavizando o convívio com o nosso semelhante.
Mas a juventude, como não foi educada – porque os pais não querem ou receiam traumatizá-la, – desconhece, por completo, as mais simples regras de civilidade e de etiqueta.
Dizem – uns poucos, – que educar compete à escola; como se a escola fosse vocacionada para inculcar normas de condutas e comportamentos morais! A escola pública deve se limitar a ensinar, já que, quando ultrapassa essa missão, costuma descambar em ideologias políticas e críticas, mais ou menos veladas, à moral cristã.
É no seio da família, desde tenra idade, que se criam hábitos, condutas e conceitos morais que moldam a personalidade e o carácter para a vida toda.
E quem não teve a felicidade de aprender, no “berço”, como se costuma dizer, tenha, pelo menos, o bom senso de adquirir o imprescindível livrinho que ensina a ser educado.
Há muitos e para todos os preços.

Humberto Pinho da Silva é dono do blogue luso-brasileiro “Paz”