José Renato Nalini
O mundo anda atormentado. E o Brasil muito mais. O mundo se alarma com os sinais apocalípticos do aquecimento global. O Brasil não leva a sério as ameaças. Continua a não enxergar a flagrante destruição da Amazônia. Só falta dar o vexame de pedir dinheiro do estrangeiro para cumprir sua Constituição. A nossa maior floresta tropical, diante dos crimes perpetrados contra ela, já emite mais CO2 do que absorve. Paradoxo cruel, que punirá justamente os mais pobres.
Se fosse apenas isso o que atormenta este pobre país, mas não é. Vinte milhões passam fome. Outros vinte e cinco milhões sabem que vão passar fome. Mais da metade da população sofre de desnutrição. Quinze milhões de desempregados. Os preços em ascensão. O teto furado, o que significa lançar por terra trinta anos de combate à inflação.
Indústrias sucateadas. Moradores de rua aumentando. E, se não bastasse, o fanatismo ignorante e perverso a semear discórdia, a separar famílias, a desfazer amizades, a produzir ira, deboche, escárnio e ressentimento.
O que aconteceu com o Brasil? Como foi possível chegar a tamanho retrocesso?
É hora de todos rezarem. Mesmo os que são agnósticos ou ateus. Acreditar numa energia que produza efeitos, se todos estiverem coesos em busca de um projeto de convivência harmônica. Adotar o padrão de um filósofo respeitadíssimo em todos os ambientes que prezam a ciência e a cultura, Joseph Ratzinger. Um homem que comandava uma Igreja de bilhões de almas e teve a humildade de resignar-se. Bento XVI nos legou uma belíssima oração pela paz: “Vós todos, homens e mulheres, que tendes a peito a causa da paz! Esta não é um bem já alcançado, mas uma meta, à qual todos e cada um deve aspirar. Olhemos, pois, o futuro com maior esperança, encorajemo-nos mutuamente ao longo do nosso caminho, trabalhemos para dar ao nosso mundo um rosto mais humano e fraterno e sintamo-nos unidos na responsabilidade que temos para com as jovens gerações, presentes e futuras, nomeadamente quanto à sua educação para se tornarem pacíficas e pacificadoras! Apoiado em tal certeza, envio-vos este apelo. Unamos as nossas forças espirituais, morais e materiais, a fim de “educar os jovens para a justiça e a paz”.
Ajamos, enquanto é tempo! O caos está mais próximo do que se poderia imaginar.
José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista e Letras