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Após o sim, temos de esperar os frutos da relação

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Marcelo Damasceno

Sim! A atriz Regina Duarte disse sim ao flerte do presidente Jair Bolsonaro para conduzir a Secretaria da Cultura, após a demissão de Roberto Alvim, que em vídeo — quase cópia fiel e de puro mal gosto –, enalteceu Joseph Goebbels, ministro da propaganda do governo nazista de Adolf Hitler, quando governou a Alemanha de 1933 a 1945.
A confirmação dela na pasta foi acompanhada pelos holofotes da imprensa, que esperava a resposta desde do anúncio do tal “namoro”, e muitos seguidores do presidente nas redes sociais, pois a atriz mostrou-se alinhada ao pensamento bolsonarista deste o período eleitoral de 2018.
Regina assume a Secretaria tendo o aval presidencial para fazer as mudanças que queira, mas mesmo assim tenho curiosidade sobre o quê, de fato, ela poderá fazer no cargo. Sendo que a pasta possui apadrinhados de diferentes políticos e como noticiado por jornalistas, uma das primeiras recomendações do presidente foi: “sem essa de cultura de minorias”.
Após essa recomendação, fico com alguns questionamentos na mente: como ignorar do cenário cultural as minorias que precisam do apoio governamental para levar ações culturais às periferias das cidades? Como incentivar o surgimento de novos atores e atrizes se esses grupos serão ignorados? Será que a nova secretária vai ignorar as necessidades das minorias artísticas para atender ao presidente?
Vale lembrar que muitos dos atores que temos hoje surgiram de pequenas companhias de teatro. Um exemplo disso é Lazaro Ramos, fruto da companhia baiana Bando de Teatro Olodum.
Não duvido da capacidade da Regina Duarte, pois ela tem uma vivência ímpar no cenário cultural brasileiro, mas desacredito da potencialidade da atual estrutura da pasta para atender à necessidade de um país com valores culturais, regionais, tão rico.
Nas redes sociais, o entusiasmo dos apoiadores pelo sucesso da secretária é grande, porém do mesmo tamanho dos críticos. Mas os dois lados estão esquecendo que ela precisa sentar na cadeira e mostrar a que veio, antes da chuva de elogios pelo carisma da atriz e das críticas por ter um pensamento alinhado ao do presidente e, principalmente, por desconhecer as entranhas da máquina pública.
Quanto tempo levará para ela mostrar a que veio? Não faço ideia, mas desde já comunico, a cultura no Brasil precisa de bons frutos.

Marcelo Damasceno é jornalista e especialista em Poder Legislativo e Democracia no Brasil