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Adoção e seus laços

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Bruna Richter

O maior desejo do ser humano é o de ser amado. Diante disso, as consequências do abandono podem ser devastadoras. O efeito imediato é o sofrimento. Ele é frequentemente seguido de uma percepção distorcida de si. Também não é incomum que apareça um autoconceito disfuncional associado à invisibilidade.
O desamparo faz surgir uma ferida gigantesca, que pode ter suas consequências expandidas durante toda a vida adulta.
Isso porque toda criança e adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Quando seus direitos são usurpados, eles ficam expostos ao risco, à vulnerabilidade e à fragilidade.
Assim, como um dos maiores desejos de alguém em desenvolvimento é se sentir seguro, quando nos sentimos rejeitados, por qualquer que seja o motivo, isso pode reverberar duramente em nossa história.
Contudo, as figuras parentais, embora sejam muito importantes para a formação saudável da personalidade, não se reduzem à biologia. Ambas as funções, paterna e materna, possuem um papel central no desenvolvimento e na estruturação do psiquismo. Entretanto, se faz necessário explicar que, por função, entendem-se os operadores simbólicos que estão em jogo e não o masculino e o feminino.
Assim, a função materna está ligada ao acolhimento e à proteção e a função paterna ligada à interdição, que ajuda a lançar a criança para as coisas do mundo. Desse modo, os cuidadores e as relações estabelecidas com eles são decisivos para o desenvolvimento psíquico saudável. E isso, aliado ao ambiente familiar, impacta diretamente na formação da personalidade e no bem estar subjetivo de quem é adotado.
E se em tempos passados imperava o modelo único de família, hoje, a concepção é baseada no vínculo afetivo.
Assim, adotar segue sendo um ato de amor que aumenta a chance da formação de laços significativos para a criança, tornando possível a ressignificação de situações passadas. Estar com pessoas que elas possam se identificar possibilita uma maior compreensão de sua história e reatualiza a esperança de se perceberem seguros e amados. A adoção transforma histórias.

Bruna Richter é psicóloga graduada pelo IBMR e bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro