Amplamente divulgada em noticiários que se espalharam pelo país, inclusive com imagens que revoltaram parte da população, a morte do cidadão Sérgio Pedro da Silva, de 50 anos, no dia 14 de junho, sentado na sala da espera do Pronto Socorro (PS) da Cohab II, em Carapicuíba (que na verdade é chamado de Pronto Atendimento – PA), continua rendendo duras críticas à administração do prefeito Marcos Neves (PSDB), notadamente à sua Secretaria da Saúde.
O principal agente das críticas mais recentes é o vereador Professor Naldo (PT), que semanalmente tem utilizado a tribuna da Câmara Municipal para insistir no que ele identifica como “fala de capacidade [da Secretaria] em gerir crises”. Naldo é o presidente da Comissão de Educação, Saúde, Esportes, Lazer e Cultura da Câmara de Carapicuíba.
“Não quero aqui pegar esta fatalidade para questionar a qualidade da gestão da Secretaria de Saúde; estamos há mais de cinco meses falando sobre isso, nesta tribuna. A Secretaria de Saúde apresentou cinco versões desta fatalidade, duas são: que o paciente teve alta após as consultas e a outra versão é que não teve alta. Só uma investigação vai apresentar a verdade”, criticou o vereador em sua última incursão discursiva na semana passada, reforçando: “No mesmo dia 14 protocolei o Ofício de nº 200/23, como presidente da Comissão de Saúde da Câmara, cobrando o Prontuário do Paciente. Tenho denunciado, entre outras coisas, a falta de empatia na gestão da saúde com os usuários, ou seja, a falta capacidade de sentir o que outra pessoa sente, de se colocar no lugar do outro, o ambiente nas unidades de saúde é hostil para funcionários, são várias denúncias de assédio moral da chefia com os funcionários, então o que esperar? Que um funcionário se preocupe com alguém que passou por atendimento e está horas imóvel sentado em uma cadeira? Esperar que alguém vá até ele e pergunte se está tudo bem com o senhor, precisa de alguma coisa?”.
Para fortalecer seu discurso de “falta de empatia” do setor de Saúde para com a população, Naldo apresentou e viu aprovado na sessão da Câmara desta semana, dia 27/6, seu Requerimento nº 68/23, pelo qual cobra da Prefeitura informações sobre adesão da municipalidade ao Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. O programa foi lançado pelo governo federal em 2001 e o vereador faz menção ao fato de já terem se passado mais de 20 anos de sua edição: “A gestão da saúde é uma gestão que não pode cometer erros, errar na saúde significa morte e sofrimento. Pacientes não podem e não devem ser tratados como ‘coisa’, e foi pensando nisso que desde 2001 temos o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Humanizar a gestão de saúde não é mais nada do que valorização dos usuários, trabalhadores e gestores, ampliar a capacidade de transformar a realidade, criar vínculos solidários, facilitar a comunicação entre gestão e pacientes. Minha questão é: ou este Programa de Humanização não foi implantado em Carapicuíba ou foi implantado pelo avesso, ao contrário dos objetivos”.
‘FALHAS NOS PROTOCOLOS’
Desde o último mês de maio, antes mesmo da morte do morador na sala de espera do posto de saúde, o vereador Naldo vem se debatendo na Câmara para tentar obter respostas de denúncias que ele alega chegarem ao seu conhecimento, contra a atuação da Secretaria da Saúde, em especial do secretário Diogo Alves Fernandes.
Vereador de oposição ao atual prefeito Marcos Neves, Prof. Naldo tentou por diversas vezes – e foi voto vencido pelos demais vereadores – convocar o secretário para prestar declarações no Legislativo. O encontro entre ambos acabou acontecendo no dia 31 de maio quando a Secretaria apresentou suas contas em Audiência Pública na Câmara, com Naldo novamente criticando a atuação da pasta.
A morte do morador, portanto, foi a gota d’água nessa relação do vereador com a Secretaria de Saúde da cidade. Em material enviado por sua assessoria à imprensa, ele critica a pasta pelo fato de ter apresentado “cinco versões da fatalidade”, mas cita em resumo apenas dua s. Não diz quais são as outras três versões que a administração pública teria apresentado.
Dois dias depois da morte de Sérgio Pedro da Silva no PS, já no dia 16 de junho, a Prefeitura encaminhou material à imprensa da região informando que afastou seis servidores do Pronto Atendimento Cohab II “por suspeita de negligência e exposição da imagem do paciente”. Disse ainda que uma comissão da Secretaria de Saúde avaliou informações e relatórios sobre o caso “e constatou possíveis falhas nos protocolos”. A nota completa dizendo que “tudo foi encaminhado para abertura de processo administrativo disciplinar”.
A Prefeitura, por fim, invocou a população a auxiliá-la no sentido de que, em caso de falta de atendimento ou atendimento inadequado, que contate a Ouvidoria da Saúde, por meio dos seguintes canais de comunicação: WhtasApp (11) 9 6909-5379 (opção 2); e-mail [email protected]; e telefone (11) 4164-1122, 4182-1777 e 4187-2079.
A reportagem do jornal Página Zero manteve contato com a assessoria de Comunicação da Prefeitura de Carapicuíba para, além da versão oficial já encaminhada para a imprensa, obter considerações sobre as alegações do vereador Prof. Naldo. Até o fechamento desta edição, na quinta-feira, 29/6, a Redação não havia obtido resposta.