Humberto Pinho da Silva
Encontrava-se Victor Orville encarcerado em escasso cubículo de prisão sul-africana. Sentia-se depressivo, angustiado, entre quatro paredes, em doentia ociosidade, contando dia a dia, com amargura, os solitários meses de prisão.
Era preso, educado, respeitador, bem diferente dos demais que permaneciam no cárcere. Aventurou-se, certo dia, a solicitar papel e lápis. De pronto foi atendido. Estavam convencidos que desejava escrever suas tristes memórias.
Ficaram, todavia, estupefatos ao verificar que o preso apenas formava pequenos quadrados, cruzando linhas horizontais com as verticais, enchendo-os com letras que formavam palavras.
Depois, pediu dicionário, e como não havia motivo de o negar, atenderam ao pedido.
Orville passava todo o santo dia a preencher quadradinhos e a consultar o dicionário. Pensaram que o preso estivesse a enlouquecer e chamaram o médico. O clínico conversou demoradamente e inteirou-se que não havia vestígio de demência, muito pelo contrário: a descoberta de novo passatempo.
Semanas depois, Orville enviou as “Palavras Cruzadas” para os jornais. Foram aceites.
Decorridos meses, já eram numerosas as publicações que lhe pediam, mais e mais…
Ao ser libertado, o preso possuía considerável fortuna. Ao falecer, deixou tudo o que possuía à empregada, que cuidou dele na velhice. Esta, mandou gravar sobre o carneiro de Orville o desenho de uma “Palavra Cruzada”.
Como Victor Orville, sendo inglês, chegou à prisão da África do Sul?
A explicação é simples: vivia em Oxford. Certa noite foi com a mulher a uma festa e bebeu demasiadamente. Aconselharam-no a não dirigir o carro. Teimou. O piso estava escorregadio. Perdeu o controle da viatura e a esposa faleceu.
Julgado, foi considerado culpado e preso. Envergonhado e desgostoso, quis ausentar-se da sua cidade e solicitou transferência para a África do Sul.
O leitor já conhece o que, depois, se passou.
Humberto Pinho da Silva é editor responsável pelo blogue luso-brasileiro “Paz”






































