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Por que o jovem abandona os estudos?

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

A maioria dos indivíduos com quem tive a oportunidade de dialogar sobre o tema, diz que quando crianças ou jovens não encontraram alguém – pais, avós, professores ou outros – com capacidade ou disposição para convencê-los sobre a necessidade de estudar. O senso geral é que todos diziam “menino (ou menina…), vai estudar pra garantir seu futuro”. Mas ninguém esclarecia devidamente essa afirmativa. Em alguns casos, a imposição autoritária apresentou efeito contrário provocando aversão e, quando possível, a evasão escolar. Todos os que hoje fazem essa observação já estão pelo menos na meia idade e sentiram a falta que faz o conhecimento e a documentação de escolaridade. Até buscaram recuperar o tempo perdido, mas admitem que poderia ter sido melhor o estudo na época indicada, quando ainda não pesavam sobre seus ombros os compromissos profissionais e a obrigação de sustento próprio e da família que se constituiu muitas vezes precocemente.
Resolvi abordar esse tema por entendê-lo relevante para as próximas gerações. Com os recursos técnicos de hoje e a modernidade cultural, penso ser mais fácil a pais, irmãos, professores e outros conviventes convencer a garotada da necessidade do estudo e dizer claramente onde poderá chegar quem estudar e o que poderá ocorrer a quem abandonar os estudos. Principalmente agora, quando a tecnologia tomou conta de toda a cena social e econômica, quem não tiver habilidade e preparo para algum trabalho dificilmente será absorvido pelo mercado, cada dia mais exigente. No passado havia, para os incultos, a alternativa de atividades em que empregavam a força física. Mas isso acabou, pois atualmente são disponíveis veículos, guindastes, empilhadeiras e processos mecânicos que substituem a força humana. O mesmo se dá na agricultura que, no lugar do plantio e colheita manuais, agora a possui mecanizada e até controlada remotamente por satélite e computador. Não precisa mais do plantador ou colhedor, mas do operador dos equipamentos. Deveria fazer parte do currículo escolar, desde aquilo que um dia chamamos de jardim da infância, a apresentação – ainda que lúdica – a computadores, máquinas e outros recursos que fatalmente encontraremos em nossa vida profissional.
Tenho a impressão – não posso afirmar que seja real porque não sou do ramo – que a educação brasileira enfrenta grande defasagem em relação às necessidades do mercado. Os cursos são muito teóricos e não treinam o aluno para assumir um posto de trabalho, como seria o desejável. Esse é um problema que deveria ser resolvido pelas autoridades educacionais através do aporte de verbas e pelos pedagogos e outros especialistas da área através da montagem de projetos que sejam contemporâneos e possam abastecer o mercado de trabalho aprontando os jovens que todos os anos chegam à idade indicada para buscar emprego e renda. É preciso achar a compatibilidade entre o mercado que possui milhares de vagas em aberto por falta de profissionais qualificados e o grande contingente de desempregados que não encontra colocação justamente por não ter as credenciais exigidas. A solução é qualificá-los.
É um desperdício os governos manterem formidáveis estruturas universitárias e de ensino básico e médio – que consomem elevadas cifras dos impostos arrecadados – e isso não servir para dar suporte adequado à formação de profissionais e às atividades laborais. Aquela parcela de professores que foi cooptada para impingir ideias político-partidárias na cabeça dos alunos deveria ser aproveitada para, com sua competência desperdiçada na tentativa de formação de militantes, atuar na preparação de profissionais que possam evoluir na carreira e oferecer novos horizontes à sociedade e economia nacionais. A manutenção de bolsões ideológicos – não importa se de direita, esquerda ou de centro – dentro da estrutura de ensino é um verdadeiro crime de lesa-pátria, pois desvia os recursos educacionais de sua finalidade. Acho que todos os cidadãos podem, se quiserem, um dia se tornar militantes, mas isso não deve lhe ser despertado na sala de aulas onde há um currículo não político ou partidário a ser cumprido. O aluno precisa receber da escola aquilo que cada curso traz em seu enunciado. Nada impedirá, no entanto, se com a cultura recebida e assimilada, resolver militar politicamente e até tornar-se líder. Mas cada coisa ao seu tempo e sem jamais negligenciar a base.
Que tal, senhores militantes do ensino, em vez de oferecer ideologia aos jovens, buscar o melhor formato de convencê-los a estudar e a ter nos estudos o seu passaporte para um futuro melhor? Mais justo e adequado do que tentar formar ativistas.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)