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Falar muito: sinal de quê?

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José Renato Nalini

Tive um professor de Latim, o sacerdote salvatoriano Padre Paulo de Sá Gurgel, figura maravilhosa de padre santo e erudito, que sempre repetia um brocardo: “Se mantivésseis calado, todos pensariam que seríeis um filósofo”. Ele falava em latim: algo como taquissis filosofus mancissis…
Quem fala demais se perde. Manifesta sua ignorância. Sua estupidez. Sua vontade de mostrar domínio em todas as rodas. Enquanto isso, os verdadeiros sábios preferem o silêncio. Daí o provérbio oriental, de tanta atualidade nos dias de Brasil sombrio que enfrentamos: “Os sábios não dizem o que sabem; os tolos não sabem o que dizem”.
Às vezes sabem. Falam para a plateia de zumbis fanatizados que acreditam em tudo. Frei Clarêncio Neotti, OFM, explora bem a situação: todos os povos têm maneira de elogiar os sábios que falam pouco e nos prevenir contra os tolos que falam muito. Não precisamos de estudos: a experiência nos ensina esta verdade. Ninguém confia em boquirrotos.
Nós brasileiros temos outro provérbio: “Em boca fechada não entra mosca”. Se a palavra é prata, o silêncio é ouro. Há silêncios eloquentes. Está na Bíblia: “Quem vigia a sua boca guarda a vida” (Provérbios, 13,3).
Saber guardar silêncio é um atributo que dignifica aquele que sabe exercitá-lo. “A discrição não é uma virtude natural. Não nasce conosco. Ela não é sinônimo de timidez. Ela é uma virtude conquistada na escola da experiência. É também a experiência que nos garante que mais vale um sábio do que dez tolos”.
Nestes dias em que figuras que deveriam dar o exemplo continuam a proferir impropérios, platitudes e idiotices, seria bom que os professores ensinassem a seus alunos que manter a boca fechada é sinal de prudência. Aliás, como dizia Wittgenstein, quando não se sabe o que falar, não se conhece do assunto, o melhor que se pode fazer é manter silêncio.
É na quietude que se perscruta a própria alma. O palrador é uma criatura incapaz de pensar. Se conseguisse meditar, não evidenciaria o ridículo de sua profunda ignorância.

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras