Início Opinião BRICS: o adversário que causa medo no Ocidente

BRICS: o adversário que causa medo no Ocidente

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Isidoros Karderinis

Brasil, Rússia, Índia e China formaram originalmente o bloco em 2009 após uma série de reuniões e entendimentos. A primeira Cúpula do BRIC foi realizada em Yekaterinburg, na Rússia, em 16 de junho do mesmo ano, onde os chefes de estado envolvidos concordaram em fortalecer o diálogo e a cooperação entre eles.
No ano seguinte, em Brasília, Brasil, em abril de 2010, foi realizada a segunda cúpula, onde os líderes desses países enfatizaram a necessidade de um sistema intergovernamental global multidimensional.
Então, em sua terceira reunião em Nova York em setembro de 2010, os BRICs concordaram com a entrada da África do Sul. A África do Sul conseguiu aderir após um grande esforço como resultado de sua política externa ativa, essa coalizão de estados mudando-a de “BRIC” para “BRICS”.
Um primeiro anúncio da criação de um Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) foi feito na Quarta Cúpula em março de 2012 em Nova Delhi, Índia, formalizada em sua Quinta Cúpula em Durban, África do Sul em 2013, com a clara intenção de independência dos BRICS pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Estados Unidos e União Européia. O acordo para seu estabelecimento, após a resolução de disputas sobre questões organizacionais, foi finalmente alcançado em 2014, durante a sexta reunião do BRICS em Fortaleza, Brasil.
Os países do BRICS compreendem 40% da população mundial, o que equivale a mais de 3,1 bilhões de pessoas. Os países do BRICS convivem com diferentes graus de desenvolvimento e diferentes estratégias.
O Brasil é o maior país da América do Sul, tanto em população (cerca de 213 milhões) quanto em área, já que ocupa sozinho 1/3 da América do Sul. É também o quarto país mais rico das américas em termos de PIB. No entanto, não possui infraestrutura adequada (rede rodoviária e ferroviária inadequada, infraestrutura portuária inadequada etc.) não permitindo que desponte como uma superpotência econômica. De acordo com o Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou em 108º lugar entre 137 economias em 2017 em termos de qualidade geral de sua infraestrutura. Escândalos de corrupção também estão presentes no país. O Brasil lida com questões regionais.
A Rússia, que é o maior país transcontinental do mundo com influência global e uma grande economia, também possui o maior arsenal nuclear do planeta e um enorme poderio militar, que usou na Síria e agora na Ucrânia. A Rússia oferece o melhor padrão de vida para seus residentes, em comparação com o restante dos países do BRICS, com 3,5% do PIB gasto em educação e 3,1% em saúde pública. O número de moradores que vivem abaixo da linha da pobreza é de apenas 0,2% de sua população. A economia russa padece, no entanto, do problema crítico da corrupção – que existe em todos os países em maior ou menor grau – bem como da significativa falta de infra-estrutura bancária, devido a mercados financeiros insuficientemente desenvolvidos, dificuldade na obtenção de empréstimos e opções limitadas investimento.
A Índia é uma potência mundial emergente com uma economia em constante crescimento. Atualmente é a quinta maior economia do mundo com base em seu PIB, enquanto seu território abriga a segunda maior população do mundo, depois da China, atingindo cerca de 1,4 bilhão de pessoas. Projeções mais recentes já mostram que pode ter superado a China e ostenta, agora, a maior população mundial. O crescimento do PIB do país está entre os mais altos do mundo na última década, alcançando um crescimento anual entre 6 e 7%. No entanto, a Índia tem uma das rendas per capita mais baixas do mundo, enquanto enfrenta enormes problemas sociais dentro dela devido à pobreza. A Índia tem os menores percentuais do PIB gastos em educação e saúde entre os BRICS, em 2,7% e 1,2%, respectivamente. A Índia é orientada regionalmente.
Lar de 1,4 bilhão de pessoas, a China está se expandindo rapidamente com penetração econômica na Ásia, América Latina, África e outras regiões do mundo. É o gigante econômico do Oriente com uma taxa de crescimento anual de 6,6%, ameaçando assim a primazia econômica dos EUA. A China é o maior exportador mundial desde 2014. Ao mesmo tempo, embora seja a segunda maior economia do mundo, continua sendo um país de renda média, pois sua renda per capita ainda é apenas cerca de um quarto da dos países de alta renda. Cerca de 375 milhões de chineses vivem abaixo da linha da pobreza de US$ 5,50 por dia. Finalmente, a corrupção aparece em taxas particularmente altas.
A África do Sul, devido à sua posição geográfica no extremo Sul do continente, que lhe dá acesso a dois oceanos, é um país hub. A África do Sul é o maior parceiro comercial da China na África. Ao mesmo tempo, centenas de empresas chinesas, tanto estatais quanto privadas, estão atualmente ativas no país. A economia da África do Sul é a segunda maior do continente africano, atrás da Nigéria. Possui riqueza natural em ouro, prata e carvão, mas também uma das maiores taxas de desigualdade do mundo. Os 10% mais ricos da população possuem cerca de 71% da riqueza líquida, enquanto os 60% mais pobres possuem 7% da riqueza líquida. É um país com um peso político particular como o único estado africano membro do grupo do G20, que, no entanto, necessita de um esforço de reforma para o seu maior desenvolvimento econômico.
Os BRICS são, portanto, o campo oposto do Ocidente, quer se expressa politicamente através da aliança Estados Unidos-países anglo-saxões-União Europeia, quer militarmente, com a NATO, quer economicamente, com organizações econômicas internacionais de origem americana, como o FMI, o Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio. A direção estratégica do bloco é a cooperação estreita para combater com eficácia e sucesso a arquitetura financeira internacional dominada pelos EUA.
Após quinze anos, durante os quais muitos questionaram a viabilidade do esquema, os saldos globais existentes levam à ampliação do bloco. Muitos países manifestaram o desejo de se tornar membros do BRICS, como Argentina, Egito, Venezuela, México, Irã, Vietnã, Bangladesh e outros.
Para encerrar, gostaria de enfatizar que a agenda dos BRICS, que conseguiram consolidar sua posição no cenário político e econômico mundial, leva à redução do domínio dos EUA e do mundo ocidental em geral e ao estabelecimento de uma nova realidade multipolar.

Isidoros Karderinis nasceu em Atenas/Grécia; é romancista, poeta e colunista. Estudou economia e completou estudos de pós-graduação em economia do turismo