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Brasil, produtor e exportador de petróleo

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É surpreendente – para quem presenciou ou recuperou nos anos e décadas seguintes os informes sobre a crise do petróleo de 1973 – a notícia de que o Brasil é hoje o décimo país exportador e o nono produtor do óleo de onde são extraídos  gasolina, diesel, lubrificantes e insumos da indústria petroquímica. Mais forte ainda é constatar que o petróleo foi a segunda commodity em valor na pauta brasileira de exportações de 2022, somando US$ 42,5 bilhões, equivalentes a 12,5% de nossas vendas ao exterior e superado apenas pela soja, cujos negócios renderam US$ 46,5 bilhões no mesmo período.
O aumento na produção petrolífera brasileira é devido à exploração das reservas na plataforma marinha do pré-sal, que continuarão se ampliando nos próximos anos. Mas, mesmo assim, isso não nos faz autossuficientes, conforme  mentirosamente foi dito anos atrás ao povo pelos governantes fantasiosos de então. O país não investiu o suficiente no parque de refino e, por isso, hoje se vê obrigado a exportar o óleo que produz ao mesmo tempo em que importa combustíveis acabados, principalmente o diesel consumido pela frota de transporte.
Em pronta resposta à crise de 1973 – onde a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), controlada pelos produtores árabes, baixou a produção e aumentou os preços – o Brasil lançou, em novembro de 1975, o Proálcool, programa que transformou motores à gasolina para funcionar com álcool hidratado. As montadoras passaram a produzir os veículos leves para funcionar com álcool e o setor sucroalcooleiro recebeu estímulos para produzir o combustível. Regularizado o mercado internacional de combustíveis, o Proálcool foi extinto em 1990. Mas permaneceu a frota movida com o combustível derivado da cana. O setor só voltou a ser estimulado em 2003, com o lançamento do carro flex, que mercê de recursos eletrônicos incorporados, consome tanto gasolina quanto álcool e até a mistura de ambos e é sucesso até o presente.
Saber que somos um dos dez maiores no comércio mundial de petróleo não tem o mesmo significado econômico e estratégico de meio século atrás quando praticamente não haviam alternativas à gasolina e ao diesel. Principalmente porque o mundo hoje luta pela eliminação dos hidrocarboneto: já existem pontos do planeta com data certa para não mais permitir o uso de gasolina e outros combustíveis derivados do petróleo. Aqui no Brasil é grande o empenho pelo carro movido à eletricidade, levando-se em consideração que hoje dispomos da nova geração das tecnologias eólica e frotovoltaica que se soma à fonte hidráulica de geração elétrica. Mas, com o patrimônio técnico e industrial decorrente da operação de carros a álcool durante os últimos 48 anos, vislumbramos o automóvel movido a hidrogênio produzido a partir do álcool automotivo. A tecnologia, desenvolvida pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa da Universidade de São Paulo foi lançada em 10 de agosto deste ano pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas, que destacou ser o piloto do programa “a primeira estação experimental de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol do mundo”.
Espera-se que a Petrobrás que, desde a sua fundação, há 70 anos, arcou com todas as dificuldades de suprir o país nos tempos de petróleo escasso e supervalorizado seja agora administrada de forma a tirar partido para si e para todos os brasileiros do óleo proporcionado pelo pré-sal. E que, diante das expectativas do fim da era petrolífera, a empresa seja direcionada a trabalhar na substituição energética e manter seu espaço no mercado. Todo o patrimônio desse gigante econômico, feito com a poupança nacional, tem de continuar servindo a nação. O petróleo, cedo ou tarde, acabará, mas sempre haverá uma frota para alimentar. O que mais desejamos é que nossa petroleira continue forte, cumpra sua finalidade supridora de energia e encontre as fontes mais adequadas para substituir gasolina, diesel e outros derivados do petróleo. E que, para bem cumprir essa missão, seja administrada sem viés político-ideológico, não atue como cabide de empregos e, principalmente, se mantenha imune à  corrupção de toda natureza.
Seu lastro histórico e econômico é muito importante para naufragar no lodo da incúria e dos maus costumes.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)