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Cigarro mata 443 brasileiros todos os dias

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

O tabagismo (vício de fumar) mata 8 milhões de pessoas por ano ao redor do mundo, revela a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, 443 morrem a cada dia por causa do tabagismo. Esse número chega a mais de 200 mil mortes por ano.
Além de interromper vidas e causar dependência em grande parte dos casos, o tabagismo provoca grande rombo no orçamento da saúde pública. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os custos com os danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde e na economia do país chegam a R$ 125,148 bilhões por ano. A letalidade do tabaco – se considerada sua perenidade (200 mil mortos por ano) – é infinitamente maior do que a da Covid-19 que, em todo seu alarde e preocupações causadas matou 705 mil brasileiros em três anos, mas já diminuiu a incidência.
“Durante o consumo do tabaco, mais de 4.700 substâncias tóxicas são liberadas, incluindo a nicotina, monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão, constituído por, aproximadamente, 50 substâncias pré-cancerígenas. A nicotina possui efeito viciante, causando dependência”, explica o médico e gerente de Atenção Primária e Cuidados Complementares da Fundação São Francisco Xavier, Nicolas Carvalho.
As drogas consideradas “leves” existentes nos produtos do tabaco são uma verdadeira bomba química. O consumo do tabaco causa mais de 50 doenças e é fator de risco para inúmeros tipos de câncer. Ele está associado a 30% das mortes por essa doença, sendo mais de 90% deles de pulmão, 25% dos casos de infarto agudo do miocárdio e quase a metade dos derrames cerebrais.
Além de ser o inimigo número um do pulmão, o tabagismo tem grande impacto sobre a saúde cardiovascular. Essas enfermidades estão entre as principais causas de mortes no mundo, cerca de 17,7 milhões de pessoas todos os anos. No Brasil, as doenças cardiovasculares são responsáveis por quase 30% de todos os óbitos registrados no país anualmente, ocorrendo muitas vezes em pessoas em idade reprodutiva, entre 35 e 64 anos.
Segundo o médico, o tabagismo aumenta o risco das doenças cardiovasculares porque forma placas de gordura nos vasos sanguíneos, aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca; induz a resistência à insulina e diabetes e produz inflamação e trombose. Além disso, quando se inala o monóxido de carbono, reduz a quantidade de oxigênio que é transportado pela corrente sanguínea.
“Engana-se quem associa o tabagismo apenas ao cigarro industrializado. Os derivados do tabaco também estão presentes em outras formas de consumo, como charutos, cachimbos, narguilés e até os dispositivos eletrônicos, que têm cada vez mais ganhado adeptos, principalmente entre os jovens”, alerta Nicolas Carvalho.
A luta contra o tabagismo é um papel de todos: governos, comunidade científica e sociedade. “É preciso mais campanhas de conscientização sobre os malefícios do tabaco e reforçar a qualidade de vida que os ex-tabagistas passam a ter quando largam o vício”, conclui.
Durante décadas, assistimos e participamos das campanhas anti-tabagismo que começavam na escola e se estendiam por toda a sociedade. Na década passada, o consumo de cigarros caiu 40% em nosso país, mas, mesmo assim, ainda é alto. Os atropelos da pandemia da Covid e a bestial polarização política em que temos vivido na última década lançaram o combate ao fumo em segundo plano. As autoridades de saúde, educacionais e outras que se relacionarem à área precisam voltar à ação para convencer o povo a não fumar e viver mais e melhor. O cigarro – que rende altas alíquotas de impostos – não deve ser encarado como fator de arrecadação porque tudo o que se cobra de impostos no setor é gasto no tratamento dos fumantes que adoecem.  Já que não consegue conter ou eliminar o vício de fumar, o governo deve investir nos centros  de pesquisa e cientistas da área  e trabalhar para diminuir a nocividade do cigarro. Se possível, modificando geneticamente o tabaco (como hoje se faz com tantos produtos agrícolas) para torná-lo menos agressivo ao homem. Todo esforço que se empreender nesse sentido será, acima de tudo, uma obra humanitária, pois tende a salvar vidas. É preciso fazer tudo para diminuir ou até eliminar o sofrimento das vítimas e evitar que os males imponham gastos tão elevados ao sistema de saúde.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)