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O baixo investimento na indústria

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Há 50 anos – na década de 1970 – a produção industrial do Brasil era equivalente a 55% da dos Estados Unidos. Hoje gira em torno dos 20% e não consta que a norte americana tenha crescido exponencialmente. Para recuperar o desempenho perdido, nosso país precisa investir R$ 456 bilhões anuais na indústria de transformação, por um período de sete a dez anos. A conclusão é de estudo elaborado pela assessoria econômica da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a maior entidade do setor, que congrega 30% do parque industrial brasileiro. São 130 mil fábricas de todos os portes e setores, agregadas por 131 sindicatos patronais.
Os investimentos brasileiros na indústria são, atualmente, equivalentes a 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) e deveriam ser de 4,6%. O levantamento diz que o melhor aporte de recursos ocorreu em 2007 (21%). Em 2021 foram 12,9% e hoje – dizem os economistas –  o que se investe não é suficiente nem para recuperar a depreciação já consolidada.
Apreciem ou não, recorde-se que nos anos 70 vivíamos sob governo autoritário, muitos bens de consumo – veículos, por exemplo – não podiam ser importados e isso alavancava a indústria local. A partir da posse do presidente Fernando Collor, o primeiro eleito diretamente depois do ciclo militar (1990), os portos foram abertos e as manufatureiras aqui instaladas passaram a ter concorrentes. Em seguida veio o Plano Real, de Itamar Franco, continuado por FHC com sua política neoliberal de privatizações que desestatizou a economia.
A ascensão do Partido dos Trabalhadores, de vocação estatizante e sindical, em 2003, foi outra grande mudança só alterada com o impeachment de Dilma Rousseff, que afastou o partido do poder, em 2016. Sob Michel Temer e Jair Bolsonaro, o país viveu mais à direita e novamente privatizante. Com a volta de Lula, tudo muda outra vez para o viés socialista.
Acima do que ser governado por direita, esquerda ou centro, parece-nos que o grande problema brasileiro está na falta de continuidade. Quando mudam os governantes, altera-se o quadro de prioridades, param os empreendimentos já começados e uma boa parte dos novos projetos nem sai do papel. Seria imprudência defender hoje as desonerações fiscais e subsídios oferecidos no passado à nascente indústria. Mas é preciso buscar mecanismos que garantam a continuidade e perenização dos negócios em andamento. A população não pode continuar vivendo o sobressalto do desaquecimento da economia (que traz desemprego) na razão direta do que os eleitos levam dentro da cabeça. Mudanças sim, mas desmonte, não.
Quem investe no país é o capitalista e até o poupador, que carecem de um mínimo de segurança e garantia de rendimento. Sem isso, simplesmente não investem e vão colocar seu capital em outras partes do planeta onde não corre o risco sentido no Brasil e em outros países economicamente insalubres. E quem deve garantir essa segurança é o governo por sua estrutura econômica, o Congresso através de leis contemporâneas e o Judiciário por decisões justas e pertinentes.
Sem isso, nada feito.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)