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São João, aqueça nossos corações!

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Renata Vasconcelos Leal

As bandeirinhas coloridas estão guardadas, o sanfoneiro silencioso usa máscara, o arrasta-pé foi cancelado. Quem nunca nesta época do ano vivenciou das mais variadas formas, dependendo da região, a alegria intensa de uma das mais contagiantes festas tradicionais do nosso país?
Cidades inteiras do interior do nordeste vivem o ano todo esperando por este momento. Mas, hoje, das janelas de suas casas, seus moradores olham o palhoção vazio. Os barcos de fogos em Sergipe, que começam a ser confeccionados meses antes, estão empoeirados. A cidade do forró e o cuscuz gigante em Caruaru terão que esperar.
Será que não há nada para refletir? Vejamos: a festa junina é um acontecimento que irradia harmonia, você já percebeu? Na apresentação da quadrilha, por exemplo, todos os integrantes precisam dançar no mesmo compasso, senão pode ser um desastre. Cada par precisa sentir a música, seguir a mesma coreografia e, após inúmeros ensaios, o que se vê é um espetáculo de integração, ritmo e coordenação, várias pessoas ao mesmo tempo dançando.
Em tempos de pandemia, uma das lições desta tradição não seria refletir sobre o valor e a importância de estarmos no mesmo compasso com o outro? Mesmo que separados, cada um do seu lugar? Cada um deve esforçar-se para acompanhar e entender o ritmo do outro, como sinal de respeito e empatia, para que, no fim, a apresentação seja harmônica! Do contrário, pode ser um desastre.
Não poderia também esta tradição nos ensinar que a fogueira acesa, que este ano não será possível, ganhe um novo significado e seja incendiada com o fogo do amor em nossos corações? Como dizia a música que tanto embalou nossas festas: “São João, São João, acende a fogueira do meu coração.” E desta vez, as nossas mesas fartas de comidas típicas, precisam dar a vez ao arroz e feijão na mesa de quem realmente precisa.
Em 2020 estamos sendo convidados pela vida a ressignificar a festa de São João! E certamente quem passar por isso e deixar que a fogueira de São João aqueça e transforme sua alma de verdade, nunca mais vivenciará as próximas festas juninas da mesma forma. Porque saberá o valor de não tê-la e saberá também o valor do seu sentido mais profundo.

Renata Vasconcelos Leal é missionária da comunidade Canção Nova