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Mutações do coronavírus

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Mario Eugenio Saturno

Vivemos tempos fantásticos em Ciência e Tecnologia, milhares de laboratórios de pesquisa científica, produção de vacinas e remédios, milhões de cientistas especializados e muito dinheiro disponível.
Há cem anos, a Gripe Espanhola (que deveria chamar-se estadunidense) ceifou milhões de vidas logo após a Primeira Guerra Mundial, estimou-se a letalidade em 2,5% de mortos entre os infectados, e ainda prejudicou a economia mundial.  Nessa época, a Ciência contra patógenos era incipiente, Alexander Fleming só descobria a Penicilina dez anos depois.
Hoje, com todo o aparato tecnológico e científico, enfrentamos um vírus, o novo coronavírus ou SARS-CoV-2, que se atribuiu uma letalidade de 3,4%, mas a realidade em países europeus ricos e que tiveram mais de nove mil mortos mostram outros números. A letalidade na França é de 19%, na Bélgica é de 16%, na Itália e no Reino Unido é de 14%. Talvez esses países estejam testando os que morrem de outras doenças e descobrindo que é covid-19, ou tenham testes falhos, de qualquer modo, precisa investigar mais.
E mesmo porque ainda desconhecemos muito desse vírus. Há uma preocupação que ele sofra mutações como a influenza ou fique ainda mais agressivo como parece ter surgido agora na China. Pesquisadores da Scripps Research, na Flórida, descobriram que uma mutação, conhecida como D614G, estabilizou as proteínas que se projetam da superfície viral, parecem com espinhos e que dão nome ao coronavírus (corona, coroa em Latim). Esses cientistas descobriram que o número de espinhos funcionais em cada partícula viral era cerca de cinco vezes maior por causa dessa mutação.
Mutações são pequenas alterações aleatórias no material genético viral que ocorrem quando são copiadas. A maioria não afeta a função do vírus, de uma maneira ou de outra.
Os espinhos de proteínas, ao conectar-se a uma célula, permitem que o vírus a infecte. Como resultado, os vírus com D614G eram muito mais propensos a infectar uma célula do que vírus sem essa mutação. Segundo o estudo, os vírus com a mutação mostraram-se quase 10 vezes mais infecciosos no sistema de cultura de células do que aqueles sem a mutação.
A mutação estudada é a que predominou na Europa e em grande parte dos Estados Unidos, especialmente no Nordeste, lembrando que o vírus original surgiu na China,  em Wuhan. Mas esse espalhamento pode ser devido a outros fatores aleatórios como a própria sorte no espalhamento pelos viajantes, na Europa e nos EUA. Como já se viu antes em estudos de um mutante do vírus Ebola, que se espalhou na África Ocidental a partir de 2013. Um estudo indicou que o mutante infectava mais células em culturas de células que seus concorrentes, mas a diferença não se confirmou quando testada em animais.
Percebe-se, ao mirar os países estrangeiros, a necessidade de investir muito em Pesquisa, Desenvolvimento e Educação, mas o que esperar de um país cujo ministro menospreza uma doença temida pelas nações avançadas, desrespeita lei sanitária estadual e ofende autoridades de outros Poderes? Os senadores podem e devem!

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano