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Nada como banho de floresta

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José Renato Nalini

Muito a aprender com os japoneses. Desde 1980, eles adotam o “banho de floresta”, que chamam shinrin-yoku, uma terapia adotada pelo serviço de saúde pública de excelentes resultados.
Nada difícil para quem tem o privilégio de dispor da proximidade de uma floresta. Caminhar em meio a ela, contemplá-la. Apenas olhar as árvores já provoca um efeito restaurador muito importante.
Pesquisa da Universidade de Stanford revelou que as árvores produzem efeitos sobre o cérebro, inclusive em regiões associadas à depressão. Por isso é que o contato com as árvores é um antidepressivo.
Pessoas muito singulares têm essa intuição. Lembro-me de que, ao caminhar pelos Jardins com Lygia Fagundes Telles, não era raro que ela se abraçasse a uma das velhas árvores que ornamentavam essa região. Aos poucos, foram sendo sacrificadas por inúmeras causas, das quais não é a menor o desapreço pela natureza.
A sociedade contemporânea ostenta inúmeras anomalias mentais, uma das quais a chamada ecoansiedade. O pior é que poucos se dão conta disso. Por isso já existe a ecopsicologia, que tenta reconectar a criatura que se autodenomina racional, com a natureza da qual faz patê indissolúvel. É o que o biólogo Edward Wilson (1929-2021) chamava de afiliação à teia da vida. A biofilia, ou seja, a relação positiva, de afeto em relação a todas as demais espécies vitais, inclusive a flora.
Os efeitos do contato com a natureza são constatados pela ciência. O “banho de floresta” é uma poderosa experiência reconectiva. Também amplia a atividade do sistema nervoso parassimpático, propicia reações de relaxamento, regulação da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. O contato com as árvores faz baixar o nível de cortisol, o hormônio associado ao estresse. E o sistema imunológico é estimulado pela presença de árvores.
Desses dados extraídos de pesquisas, extrai-se a urgência de multiplicar as áreas verdes, com o aproveitamento de todo espaço ocioso para acolher espécies arbóreas. Com isso, o replantio do bilhão de árvores de que o Brasil carece não atenderá somente às finalidades ecológicas, mas contribuirá para um salto qualitativo na saúde mental dos brasileiros.

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e secretário-geral da Academia Paulista de Letras