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Anjos na Terra

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Humberto Pinho da Silva

Conhecido de D. Francisco Manuel de Melo, contava entre seus bens a quantidade de amigos que possuía e, tinha razão, porque, quando são leais, sinceros e dedicados, são bens mais valiosos que ouro e prata. São anjos, que Deus nos proporciona para amenizar as agruras da vida.
Infelizmente, anjos bons são raros, a maioria dos amigos comporta-se como as formigas, que só procuram celeiros cheios, como os de Job; outros, hipócritas, buscam fama, influência e glória, como os de Camilo, que tendo “Cento e dez, tão serviçais”, mas vendo-o doente, pobre e quase cego, diziam: “- Que vamos lá fazer? Se ele está cego, não nos pode ver!”.
Também eu, durante a minha longa existência, tive amigos, companheiros de jornadas, que Deus, na Sua infinita bondade, colocou-os no meu caminho, a quem lhes devo o que fui e o que sou.
Muitos os perdi no correr dos anos, ceifados pela impiedosa morte, mas ficaram, para sempre, gravados no filme da memória, com gratidão e saudade.
Entre eles, destaco o Silvério, que me abriu as portas, que muito necessitava, não por amizade, porque mal me conhecia, mas pelo bondoso coração, que tudo fazia para ajudar a quem muito precisava.
Deparei, também, na estrada da vida, muita ingratidão, falácias e cambalachos, e ainda quem utilizando a política (que devia servir para o bem de todos) me prejudicou no termo da carreira profissional; e tudo porque não sou, não era, nem quero ser – porque abomino opinião de cabresto, nem penso por cabeça alheia – militante de partido político.
Porém Deus sempre me amparou, como Pai que cuida dos filhos, não que fosse ou seja merecedor, que não sou, mas creio, como supunha Jean Guitton: a Misericórdia divina é superior à Sua Justiça.
Jesus sempre me enviou e certamente enviará, nos momentos angustiosos, anjos da guarda, que permanecem presentes nas horas de amargura.
Foram e são mãos humanas, guiadas pela Mão de Deus, que consolam, apoiam e abraçam.
Seria justo citá-los, mas muitos já não se encontram entre nós, e os mortos não têm vaidade; os que restam, certamente, não gostariam de se verem em letras de forma.
Decerto, o leitor também deparou e deparará, ao longo da vida, com “anjos” que o acolheram e o protegeram. Se atribuiu, alguma vez, o auxílio à sorte ou acaso, está redondamente enganado; foi certamente a Mão de Deus que fez a mão dos homens agir.
Não foi sem razão que o conhecido do nosso clássico incluía no rol dos bens, os amigos fiéis e dedicados.
Porém não é fácil topar, no percurso da nossa peregrinação terrena, com tais “anjos”.
Os que nos abordam, em geral, não são “anjos” da Luz, mas das trevas. Buscam interesses e o vil metal, que tudo compra e tudo corrompe.
Já o ilustre Rei Salomão dizia: “As riquezas granjeiam muitos amigos; mas os pobres, o seu único amigo, a deixa” – Pv.19:4.
Infelizmente era assim, e continua assim, e para nosso mal, continuará assim.

Humberto Pinho da Silva é editor responsável pelo blogue luso-brasileiro “Paz”