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Dinheiro mal gasto

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José Renato Nalini

Em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a fornecer cem bilhões de dólares por ano para financiamento climático em nações mais pobres. Promessa descumprida. À medida que aumentam os sinais de exaurimento do planeta, diante da péssima conduta humana, o déficit de financiamento para a adaptação piora a olhos vistos.
Os cem bilhões já não são suficientes. Hoje fala-se em quase quatrocentos bilhões. Isso porque as ações para proteger as pessoas e a natureza são de urgência urgentíssima. Enquanto as necessidades aceleram, o juízo do mundo encolhe.
Quanto se gasta na guerra da Ucrânia e no sangrento episódio entre Israel e Hamas? Quanto se investe na indústria do armamento, que sequer deveria existir. Algo que se fabrica para tirar a vida humana deveria ser proibido. Há tecnologia suficiente para oferecer instrumentos que paralisem, mas que não tirem a vida.
Investimentos em obras faraônicas, viagens interplanetárias, manutenção de luxo e riqueza, tudo isso evidencia que a humanidade está gravemente enferma e não quer se tratar.
O homem não merece a denominação “animal racional”. A razão deixou de existir e prevalece a parcela animalesca. Nem se pode afirmar que se distingue dos inferiores. Esses não fazem guerra programada, não matam por matar.
Enquanto isso, acordos são firmados em viagens nababescas, e sistematicamente deixam de ser cumpridos. A incapacidade de adaptação adequada intensifica e, portanto, agrava a crise climática. As consequências drásticas atingem os mais vulneráveis. As vítimas preferenciais do desmando dos poderosos. As cinquenta e cinco economias mais vulneráveis ao clima já sofreram mais de quinhentos bilhões de dólares em danos nos últimos anos. Cada bilhão de dólares investido no combate às inundações costeiras ajudaria a evitar catorze bilhões em prejuízos econômicos. Mas isso não passa pela cabeça de quem apenas persegue, de forma egoística e insensata, benefícios imediatos e estéreis. Como a próxima eleição ou a matriz da pestilência chamada reeleição, que motiva os ambiciosos a alavancarem os famigerados Fundos Partidário e Eleitoral, enquanto a humanidade caminha para o desastre final.
Que dinheiro mal gasto o que se emprega em política partidária!

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo