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Como acabar com a estupidez?

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José Renato Nalini

Quando se vê o descaso da humanidade pelo aquecimento global, cuja causa é a crescente emissão de gases venenosos, duvida-se que exista racionalidade nessa espécie. Quando se assiste a espetáculos dantescos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, reforça-se a convicção de que o bicho-homem é um animal estúpido. E não é preciso muito para verificar que a estupidez permite que pessoas habitem nas vias públicas, entreguem-se à droga e à mendicância, enquanto malfeitores se valem da miséria para enriquecer.
O calor que mata, os focos de incêndio no Pantanal, os rios secos na Amazônia e o Parlamento a discutir mais dinheiro para fazer propaganda política e a exigir cargos e emendas para aprovar projetos de interesse da população, conduz – tudo isso – à conclusão de que o projeto humano é um verdadeiro fracasso.
Os seres privilegiados com o pensamento atilado, com o privilégio de enxergarem o que a manada ignora, sofrem com isso. Mas fazem o que podem, para alertar os que queiram ouvir, de que é preciso converter cada indivíduo, para que haja salvação para todos.
No livro “Montevidéu”, o escritor espanhol Enrique Vila-Matas faz uma ficção que nos arremessa para a realidade. É uma obra escrita após o transplante de rim, cirurgia gravíssima e plena de riscos, mas que, bem sucedida, permitiu a ele renascer para uma ficção quase real.
Sua maior angústia em nossos dias é a estupidez: “Passou um século e o panorama mundial da imbecilidade se ampliou, o que embora continue sendo risível e nos dê material para o humor, é muito alarmante. Claro que, no fundo, catástrofes de tal magnitude já foram previstas por Flaubert, quando ele disse que havia um só mal que nos afligia: a estupidez”.
Sim. Enquanto a inteligência, a generosidade, a retidão, constituem atributos raros, a imbecilidade é distribuída com fartura. “É uma estupidez temível e universal. Por exemplo, quando se fala no embrutecimento das massas, falamos em termos injustos e incompletos, já que na realidade seria necessário ilustrar as classes ilustradas, começando pelas que estão no poder para nos entendermos. É a mais inculta que já existiu. Deveríamos começar pela elite, educar a ignorante classe política. E quem será corajoso para tentar?”.
Para início de conversa, o que é elite? Os que mandam podem ser hoje considerados uma elite? Ou parece que o próprio significado de “elite” precisaria ser revisto?

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo