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O soro anticovid do Butantan

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Mario Eugenio Saturno

A crise do coronavírus não nos traz somente más notícias. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu o aval para que o Instituto Butantan inicie os testes do soro anticovid em humanos já em abril. Os últimos documentos foram entregues e as observações aos preparativos do estudo estão sendo adotadas pelo Instituto.
Os cientistas do Butantan tiveram que realizar novos testes para atender os pedidos da agência, atrasando o processo de liberação em cerca de dois meses. Os cientistas do Instituto nunca tiveram tantos entraves para a liberação de um soro. O Butantan produz soros há mais de 120 anos e é um laboratório de referência na produção desses compostos na América Latina. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a cobrar publicamente a agência regulatória pela liberação.
O Butantan já tinha três mil frascos do soro prontos para serem utilizados no estudo clínico no dia 2 de março. Espera-se que o soro evite o agravamento dos sintomas e cure os contaminados pela Covid. O soro foi totalmente desenvolvido pelo Butantan e atuará no tratamento da doença, ao contrário da vacina, que busca prevenir a infecção.
O soro já passou pelos testes pré-clínicos e demonstrou que é seguro e efetivo em dois estudos de animais. Os testes feitos em hamsters mostraram uma eficácia promissora, redução considerável da carga viral, preservação das estruturas pulmonares e diminuição nos processos inflamatórios. Isso em nada surpreende já que o Butatan é responsável pelo fornecimento de 100% dos soros antiofídicos do Brasil.
Para obter o soro contra a Covid, o novo coronavírus foi isolado de um paciente brasileiro e, então, cultivado, inativado, submetido a vários testes em camundongos e, por último, aplicado em cavalos que produzem anticorpos. O plasma resultante foi coletado e processado. O plasma é a parte líquida do sangue desses animais. O Butantan possui uma fazenda própria com diversos cavalos e uma fábrica própria para a produção do soro.
Com o aval da Anvisa, o soro será aplicado em pacientes adultos que estejam hospitalizados e apresentem sintomas claramente associados à Covid há poucos dias. O objetivo é evitar que o estado de saúde do indivíduo seja agravado pelo vírus, bloqueando a infecção ainda nos primeiros sintomas. A pesquisa inicial será realizada com pacientes transplantados do Hospital do Rim, conduzidas pelo médico nefrologista José Medina, e com pacientes com comorbidades no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com o médico infectologista Esper Kallas. Ambos participam do Centro de Contingência de São Paulo.
O soro que será aplicado em adultos recém-infectados com o coronavírus servirá para que os cientistas descubram a quantidade de doses que deverão ser aplicadas em cada doente. O Instituto usará o conhecimento que tem no uso de soros contra picadas de cobra.
Em dezembro, a Argentina começou a usar essa mesma técnica no hospital de campanha do distrito de Corrientes, onde 45 internados receberam o soro em fevereiro; destes, 42 tiveram alta em uma semana. Acompanharemos com interesse redobrado/.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano