Marcelo Damasceno
A expansão da internet, por meio das redes sociais, possibilitou às pessoas uma conexão social em tempo semirreal com diferentes acontecimentos no Brasil e no mundo. Por meio dela, foram eliminadas barreiras físicas que impediam uma comunicação direta, fez com que pessoas se conectassem por afinidades de norte a sul, que mobilizações fossem organizadas, deu voz a diferentes causas e possibilitou uma maior participação do cidadão no debate político.
O último tópico das possibilidades geradas pelas redes socais, desde junho de 2013, vem se acentuando no ambiente virtual, porém sem muito espaço para o necessário debate democrático sobre o bem comum em redes que conectam milhares de brasileiros. Algo que ficou ainda mais evidente durante os 45 dias de campanhas nas eleições de 2018, quando foi possível observar ataques virtuais entre os presidenciáveis e os seus correligionários, o disparo em massa de mensagens via redes sociais e o uso massivo de fake news para descredibilizar os oponentes por meio das redes.
Ações que tornaram as redes sociais um verdadeiro campo de batalha entre os usuários autodeclarados de esquerda, direita, centro, apolíticos e os defensores do novo (nova política), onde é possível encontrar narrativas que lamentavelmente reforçam preconceitos, ideias que incitam o ódio, negacionismo e descredibilizam instituições.
Fatores que somados ao uso de fake news contribuem para criar um ambiente prejudicial à democracia, e nos aproxima dos quatro principais indicadores de comportamento autoritário apontados por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em seu livro (Como as democracias morrem): Rejeição das regras democráticas do jogo ou compromisso com as leis; Negação da legitimidade dos oponentes políticos; Tolerância ou encorajamento à violência e Propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia.
Os elementos apresentados pelos autores contribuem para minar a democracia em qualquer país, e podem facilmente serem vistos nas redes sociais de muitos brasileiros. O que, por si, já seria o suficiente para disparar o alerta nas autoridades, ainda mais quando estamos próximos a mais uma eleição geral.
Porém, as nossas autoridades seguem debatendo, há mais de um ano, o projeto de lei 2.630/20, que pode instituir a “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”. O projeto não será a solução, mas é um instrumento que pode combater a criação e disseminação de fake news, entre outros pontos.
Enquanto esperamos por uma panaceia jurídica para punir quem financia a produção de fake news no país, devemos seguir atentos ao que lemos, assistimos, ouvimos, comentamos e compartilhamos nas redes sociais, e dispostos a debater de forma salutar com quem pensa diferente sobre problemas comuns a todos. Caso contrário, seguiremos alimentando um ambiente hostil que nada favorece com a manutenção de uma democracia.
Marcelo Damasceno é jornalista, especialista em ciência política contemporânea e mestrando em Comunicação Social