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O receio de opinar

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Humberto Pinho da Silva

Antes de me aposentar, prestei serviço em empresa que possuía e possui milhares de trabalhadores.
Convivi apenas com pouco mais de uma ou duas dezenas. Contudo, admirava-me que em épocas eleitorais, quando se perguntava a opinião sobre os candidatos, esquivavam-se, declarando receosos: – “Eu cá, voto na maioria, no que vai à frente, segundo a mass-media”.
Admirava-me da atônita resposta. Vivíamos, já em plena democracia (seria?); e em democracia, cada qual não se deve inibir de ter opinião. Hoje, compreendo – a idade dá-nos sabedoria – que para vir à praça pública e dizer, em letra de forma, o que se pensa, requer coragem – muita coragem. Principalmente para quem não possui proteção de poderoso, que o acuda quando se é retaliado.
Eu sei, infelizmente, que muitas vezes os dirigentes são escolhidos pelas suas ideologias e que costumam beneficiar correligionários e afastar os que não são da sua “capela”. Eu sei…
Em Congresso de Sociologia realizado em Coimbra, no início do século, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral defendeu a tese: que dois terços dos inqueridos, num estudo realizado em Portugal, sentiam receio de exprimirem opinião sobre governantes.
Não é, portanto, de espantar que humildes trabalhadores não cobertos pelo “guarda-chuva” do partido sintam medo de serem marginalizados de futuras benesses, pelas suas ideologias. Compreende-se que quem vive do trabalho ande com o “credo” na boca, para não sofrer represália, como eu sofri, por não ter cor política.
O medo dos “poderosos” é muito antigo. Desde tempos ancestrais, sempre houve receio dos dirigentes. Basta ler o Livro de Ester 8:17, para se verificar isso: “Os povos da Terra se fizeram judeus; porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles”. Esse “temor” fez que muitos monarquistas se rendessem à república e que acérrimos partidários do Estado-Novo se refugiassem em partidos de esquerda.
Fizeram-se esquerdistas, do mesmo modo que no tempo de Ester se “fizeram” judeus.
A frase do antigo presidente do município de Penalva do Castelo: “Quem está com o governo, come; quem não está, cheira”, parece estar – e sempre estará – atual. Aqui e em toda a parte.

Humberto Pinho da Silva é editor do blog luso-brasileiro “Paz”