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Tudo igual, mas pior

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José Renato Nalini

A resiliente esperança do povo brasileiro tende a alimentar a ilusão de que as coisas melhorem. Nada obstante, a caminhada é de tropeços e sustos. Acreditou-se em um governo apolítico, centrado no atendimento às necessidades básicas de uma população pobre e sofrida.
O que se viu? Uma espúria aliança com o fisiologismo rasteiro e faminto. “Aura sacra fames”, já diziam os romanos. O dinheiro é uma praga quando se torna o primeiro objetivo de um ser finito, que tem apenas algumas décadas para residir neste planeta maltratado e que não levará consigo um centavo quando partir. Só deixará brigas entre irmãos, surpresas desagradáveis escondidas durante algumas existências e, como o povo sabe, “dinheiro não leva desaforo”. Tudo vai passando de mãos e o rico de ontem é o pobre de hoje.
A corrupção que deveria ter acabado, está nos bizarros contratos de vacina, em rachadinhas, em ligações perigosas. O pior é o mau gosto que passou a residir nas mais altas esferas. O tosco, o rústico, o tom de primata é o que predomina, para desespero daqueles que sonhavam com a elegância vernacular dos que deveriam se exprimir no idioma de Camões e de Fernando Pessoa.
E pensar que Pedro II extinguiu os “Dragões da Independência”, porque entendia que seu custo não era compatível com a miséria brasileira. É óbvio que a República a recriou. Pensar que o nosso último Imperador recebeu, em 1887, o título de Doutor Honoris Causa em Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge! Dois anos depois, saía escorraçado da terra em que imprimiu grau civilizatório que a República exterminou.
Pedro II era ridicularizado pela mídia. Charges, gracejos, criticava-se o seu modo simples de se vestir e a simplicidade franciscana dos Palácios da Quinta da Boa Vista e de Petrópolis. E ele sempre zelou pela mais completa liberdade de imprensa. Nunca acenou com qualquer limite à sacrossanta liberdade de expressão.
Em Paris, no pouco tempo que lhe restou de vida após a suprema ingratidão, carregava consigo um saquinho com areia de Copacabana. Com essa recordação da pátria ingrata foi sepultado.
Já tivemos um estadista assim na Terra de Santa Cruz, uma cruz hoje pesada para a sacrificada gente tupiniquim.

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras