José Renato Nalini
Quem gosta de ler não tem medo de solidão. O livro nunca deixa alguém sozinho. É a melhor companhia, porque não interrompe, não discorda, está sempre disponível. Cansei de ler? É só colocar um marcador de página e ele estará ali, pronto, à disposição, quando eu voltar.
Desde que me alfabetizei, tive no livro a minha mais satisfatória companhia. Leio e releio com imenso prazer. Tenho minhas preferências, é claro. Gosto muito de biografias e autobiografias. Mas nunca deixei de ler um livro que à primeira vista me interessou. Ainda que não seja a mais prazerosa descoberta. Um senso muito escrupuloso de dever, faz com que eu o termine. Em compensação, há livros que não quero terminar, de tão bons que são.
Nem sempre corro atrás dos bestsellers. Nada contra. Se fazem sucesso, é porque têm especial atratividade para uma classe de leitores. Vejo que na França, o livro “O Enigma do Quarto 622”, de Joel Dicker, vendeu quase quinhentos mil exemplares! Aqui no Brasil, em 2020, o livro mais vendido foi “Do Mil ao Milhão”, de Thiago Nigro, com trezentos e cinquenta mil exemplares. Só que nós somos três vezes maiores em população do que a França.
Joel Dicker ganhou, em 2012, um prêmio da Academia Francesa, por seu livro “A Verdade sobre o Caso Harry Quebert”. Todavia, a crítica é contundente, ao dizer que sua literatura é superficial, muito leve. Ele não fica desgostoso. Acha que no mundo em que todos estão ligados à internet, qualquer leitura é melhor do que nenhuma.
É o que sempre falo para filhos e netos. Ler qualquer coisa. Algo que seja agradável. Incentivar as crianças a ler é contribuir para a educação de qualidade tão carente no Brasil. Nada contra as mídias sociais, que podem suscitar a curiosidade e preparar futuros leitores. Mas a leitura é insubstituível. Principalmente nestes tempos em que somos obrigados a permanecer distanciados, ensimesmados e medrosos de contágio.
Todo livro, digo sempre, tem de ser rotulado de “auto ajuda”. Se o livro que você está lendo não está servindo para fazer de você alguém melhor, então é melhor deixar de lê-lo.
Quem lê tende a detectar o encanto da vida. Passa a dispensar remédio. Ler faz bem à saúde. Física e mental.
José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras