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Proibir o carnaval e orientar o povo

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Merece toda a atenção a notícia de que pelo menos 70 dos 645 municípios paulistas já cancelaram o carnaval de 2022. É mais de 10% das localidades, um volume significativo, embora, em razão da diferença de tamanho e população entre uma e outra, não seja possível só com esse dado estabelecer o que essa renúncia representará para São Paulo e o Brasil. Com certeza, nos próximos dias – ou semanas – outros prefeitos vão se manifestar por vontade própria ou pressão dos seus munícipes.
O quadro caótico vivido na Europa, já submetida à quarta onda do coronavírus e com a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) para mais 700 mil mortos até março – leva nossa população a temer que, com a aglomeração típica das festas, especialmente do carnaval, venhamos a perder a situação de alívio pandêmico hoje vivida. O grande volume de postagens nas redes sociais retrata essa preocupação.
Já temos a maior parte da população vacinada e – pelo menos teoricamente – imune à Covid-19, mas ninguém diz com clareza o nível dessa proteção e principalmente da não reinfecção dos vacinados. Isso se justifica pelo caráter emergencial do desenvolvimento das vacinas. Muitas de suas nuances ainda estão em pesquisa e, por isso, não podem ser respondidas. Mas as autoridades – que na pandemia chamaram para si a tarefa de adotar as medidas de proteção – não podem agora se ausentar de orientar a população. O cidadão comum precisa saber até onde pode desfrutar com segurança a liberdade que lhe foi devolvida depois dos lockdowns, quarentenas e medidas restritivas. O ideal seria que a área científica – nunca a política; emitisse orientações para que os indivíduos possam trabalhar, estudar e conviver sem abrir a guarda para o vírus. Até agora não tivemos essa definição.
O carnaval é, sem dúvida, o maior evento brasileiro pois acontece em todas as cidades, mobiliza a economia e elevada parcela da população – os que participam de blocos, escolas de samba, bailes e os que vão aos desfiles – todos sujeitos à infecção pelo coronavírus. Se não adotarem as posturas adequadas é grande o risco de também amargarmos a quarta onda. Quem for participar do carnaval – nas localidades onde ele for liberado – precisa estar orientado sanitariamente. Da mesma forma, a população precisa de instruções seguras de como se comportar no Natal, Ano Novo e Dia de Reis, os três eventos que aglomeram pessoas na virada do ano.
Os governantes – sejam o presidente da República, os governadores e os prefeitos – não devem repetir a polêmica da pandemia. Sua missão de ofício é apenas prover e mobilizar os recursos para que a área da Saúde oriente convenientemente a população. Já tivemos mais de 600 mil brasileiros mortos pela pandemia. Estes, já perdemos. É preciso agora responsabilidade para evitar que o número se amplie e a sociedade seja novamente tolhida em seus movimentos e principalmente na produção de bens e riquezas que, em última análise, são a garantia de alimentação para a população.
Que os responsáveis pelos diferentes setores cumpram suas obrigações sem invadir seara alheia. O povo precisa saber apenas o que deve (e o que não deve) fazer nesse tempo de transição.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)