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O ogro do agro

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José Renato Nalini

A imagem não é minha: é de Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde & Alegria, que resiste a tentar salvar a Amazônia. Corre risco de vida, pois estamos na terra que matou Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang e muitos outros ignorados amigos da selva.
Parece mentira que o povo que habitou a maior floresta tropical do planeta, a responsável por um regime de chuvas benéfico, suficiente para tornar sua pátria em “celeiro do mundo”, seja tão cruel para com a natureza. Mas é verdade. A riqueza no século vinte e um é o verde da floresta e o azul da água. Estamos desperdiçando essa fortuna. Desmatando, contaminando rios, grilando terras. Continuamos o genocídio da matança dos indígenas, que já aculturamos e fizemos herdar nossos piores defeitos.
Meio ambiente é economia. Para Caetano Scannavino, o recuo ambiental anunciado e aplaudido pelos dendroclastas custará cinco trilhões de dólares ao Brasil. O cenário é tétrico: acompanhar Trump em relação ao boicote ao Acordo de Paris, subordinar o Meio Ambiente à Agricultura, flexibilizar ainda mais o licenciamento ambiental, que já matou o Rio Doce e cuja inobservância pouco ou nada custa ao infrator. As multas ambientais no Estado de São Paulo, além de pífias, prescrevem porque a Fazenda não consegue executá-las em cinco anos. E estamos falando de São Paulo. Imaginem o que acontece nos Estados onde a lei da selva não é metáfora, mas realidade.
É lamentável que na Amazônia, como diz Scannavino, “o ilegal é legal e o que deveria ser exceção é regra. Se alguém quiser explorar madeira fazendo a coisa certa, não vai conseguir concorrer com o preço baixo da tora extraída de forma irregular”. Há muita terra que já foi pasto e deveria ser reaproveitada, sem que uma árvore mais tivesse de ser cortada. O agricultor consciente sabe que a agricultura precisa de água. É ele, se ainda existir, que tem de convencer o lado “ogro do agro”.
Antes de desmatar para plantar soja que vai alimentar o gado no restante do planeta, recomponha-se a terra arrasada e ver-se-á que árvore em pé é lucro certo. Só não enxerga quem estiver de má fé, ou cuja ignorância seja superior àquela que acomete quem só pensa em lucro imediato e não tem compromisso com o futuro.

José Renato Nalini é
autor de “Ética Ambiental”