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De volta a incerteza sobre a Covid-19

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É preocupante saber que a variante ômicron do coronavírus vai se alojar em mais da metade da população do continente europeu num prazo  de seis a oito semanas. O alerta sanitário foi emitido, em Copenhagen (Dinamarca), pelo diretor regional da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a Europa, Hans Kluge, com a observação que, apesar da menor mortalidade da cepa, a Covid-19 ainda não pode ser considerada uma doença endêmica com a qual a população conviverá. O levantamento citado pelo dirigente engloba a Europa, Rússia e países a Ásia Central. Cinquenta, de 53 países pesquisados, já registram casos da ômicron. Nas 27 nações da União Europeia diagnosticou-se 5,3 milhões de infectados na primeira semana do ano. A França explodiu em casos, apesar das restrições sanitárias e, na Itália, um bispo chegou a proibir padres não vacinados de dar a comunhão. Nos Estados Unidos explodiram as internações e o quadro é ameaçador.
Em território brasileiro, a ômicron se alastra e preocupa, especialmente porque chega consorciada com a nova versão da gripe H3n2. Os serviços públicos de saúde já reservam parte de sua rede de atendimento para receber os portadores de sintomas de Covid e gripe. O atendimento rotineiro de diferentes moléstias, retomado nos últimos meses, volta a ser suspenso. Aguarda-se, para os próximos dias, os efeitos das festas e aglomerações de Ano Novo e os prefeitos de São Paulo, Rio e outras importantes cidades já suspenderam o carnaval de rua enquanto outros esperam mais informações sobre o comportamento da pandemia para decidir se mantêm ou cancelam a festa, programada para a virada de fevereiro para março.
Verificamos, em São Paulo, o governo preocupado com a transmissão – que na ômicron é mais veloz do que nas cepas anteriores – se preparando para retomar as restrições de aglomeração e eventos que reúnam grande número de pessoas. Por ora, como definiu o governador João Dória, ainda não se vai mexer com o horário do comércio e de serviços. O certo é que voltamos aos momentos apreensivos da pandemia, quando ainda não se sabe o que poderá acontecer nos próximos dias e meses. Ver as autoridades mais cautelosas (que nos anos anteriores) com a imposição de restrições às atividades econômicas é interessante. Mas é preciso ter a eficiente avaliação de como será possível manter essa situação. Sete estados já adotaram medidas restritivas.
Diferente da virada de 2019 para 20, quando a pandemia já eclodia na China e o mundo nada fez para evitá-la, temos hoje todas as preocupações para nos preservar do ataque da ômicron e de outras cepas que possam chegar ao nosso território. As autoridades de saúde hoje já possuem estudos sobre a pandemia e suas formas de ataque. É preciso muita observação em relação às novas cepas do vírus e a possível interação.
Estamos num ponto onde o grande conselho é cuidado. Ninguém se prejudicará se mantiver o distanciamento, a não aglomeração e os cuidados sanitários básicos. E os governos e autoridades de saúde têm o dever de oferecer a estrutura de tratamento àqueles que vierem a se contaminar. Os milhares de brasileiros que fugiram da vacina têm de por a mão na consciência e – acima disso – pensar na própria saúde. Está provado que o vacinado corre menos riscos e, mesmo que pegue a Covid, é mais difícil vir a desenvolvê-la na forma grave e mortal.
Toda atenção é necessária nesse quadro incerto e ameaçador. Esperamos que, desta vez, mesmo em sendo um importante ano eleitoral, os políticos não deem sequência à nefasta discussão em torno da pandemia com o objetivo de ganhar votos. Isso é, no mínimo, desrespeito aos mais de 620 mil brasileiros que morreram e aos milhares que restaram sequelados nesse episódio de saúde.
Os que tentarem tirar proveito político disso, principalmente atacando o adversário, merecem toda a repulsa popular e a melhor delas: a negativa do voto.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)