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O crime, martírio da população

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Enquanto as diferentes correntes políticas divergem e polarizam pensando nas próximas eleições, se esquecem das obrigações do presente. Fruto, pelo menos em parte, da cultura da impunidade – malandramente rotulada como “democrática” – o crime organizado se avoluma e subjuga a população, cada dia mais incomodada. A saidinha de banco, que tantas vítimas fez durante anos, agora se sofisticou e migrou para o sequestro do PIX. Nessa sociedade desarmada, onde o indivíduo é proibido de se defender (e nem tem com o quê), ficou fácil para os marginais arrebatarem pessoas e até famílias inteiras e coagi-las a transferir dinheiro do PIX para contas que indicam. O sistema de transferência e pagamento on-line, instituído para a fluidez do mercado e facilidade do usuário, tornou-se fonte de insegurança. Oferece – aos ladrões – mais oportunidades que o já conhecido golpe da compra forçada com cartão de crédito (da vítima) e outros esquemas largamente difundidos na nossa sociedade insegura.
A cada avanço proporcionado pela tecnologia e sistema financeiro, surgem os transgressores, que numa sociedade mais rígida estariam cumprindo as penas de crimes anteriores, mas no sistema multi-recursos protelatórios do Brasil, estão na rua e em condições de cometer novos delitos. A crônica policial está repleta de eventos de alto dano e as organizações criminosas são conhecidas por nomes e áreas de atuação. São roubos de jóias, relógios, cargas (de preferência mercadorias de alto valor), assaltos a bancos (de madrugada e como operação de guerra) e um sem número de delitos cometidos sem violência mas com ardil nas páginas da internet. Muitos vendedores já perderam suas mercadorias porque as remeteram aos supostos compradores e, em lugar do dinheiro, receberam comprovantes de transferência falsos.
O Banco Central, operador do PIX, já anunciou a limitação do valor das transferências, especialmente no período noturno e o recurso de o emitente reter a liberação por algum tempo, o suficiente para confirmar o negócio e livrar-se de atos criminosos. É um avanço, mas ainda não representa segurança, pois não depende só disso. Onde o homem e, principalmente, o dinheiro se fazem presentes, também se encontra o criminoso em busca da vantagem indevida. As verdadeiras operações de guerra que as quadrilhas montam para assaltar bancos e transportadoras de valores e, ao mesmo tempo, subjugar a população de pequenas e médias cidades, são provas do regime de alta insegurança em que vive a sociedade brasileira.
É um grave desperdício ver os participantes dos poderes institucionais – Legislativo, Executivo e Judiciário – brigando como fizeram durante os últimos tempos com vistas às próximas eleições ou – pior ainda – por puro capricho pessoal. Todos precisam se conscientizar do compromisso que assumiram ao chegar a seus postos. A sociedade precisa que trabalhem e busquem soluções para os problemas que a afligem. Não podem os senhores e senhoras eleitos e não eleitos que pretendem concorrer na próxima vez continuarem se comportando como se vivêssemos numa permanente campanha eleitoral. Assim como não devem os integrantes do Judiciário assumir tarefas de Executivo e Legislativo e deixar para segundo plano as de efetiva distribuição da Justiça, conforme o ordenamento usual.
Nas ultimas três décadas, os ditos “democratas” – muitos deles cultores da ditadura do proletariado – fizeram de tudo para destruir a estrutura de segurança pública e banalizar o cumprimento da pena, e conseguiram. Leis permissivas entraram em vigor e deu no que deu. O medo é generalizado e demonstra que muito daquilo que se pregou como direitos humanos na verdade é direito para os marginais e martírio para o cidadão comum.
Precisamos retomar o caminho da seriedade e dos direitos com deveres. Do contrário, patinaremos sempre, sem alcançar o perseguido destino de pátria progressista, livre e boa de nela viver.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)