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Dinheiro? Pra que dinheiro?

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José Renato Nalini

Muitos devem se lembrar da música: “Dinheiro, pra que dinheiro, se ela não me dá bola…” Mais fácil recordar-se do bordão de Silvio Santos: “Quem quer dinheiro?”. Pois é. O dinheiro estará em falta nos próximos anos. A pandemia derrubou todas as economias, acelerou a miséria e a pobreza e os PIBs terão de ser vistos com lente de aumento.
Será que a humanidade vai parar e raciocinar sobre os valores que prevalecem no atual estágio de civilização?
Há uma forte pregação no sentido de fazer sucesso. Ganhar a vida equivale a ganhar dinheiro. Só que o mundo está sendo cruel com a juventude. Os pais que sobreviveram com dignidade, não podem assegurar à sua prole tenham o mesmo destino confortável.
Há uma geração inteira sem trabalho. Porque o mundo do trabalho mudou. Há menor necessidade de mão-de-obra. A automação extinguiu milhões de empregos. Não é verdade que a Inteligência Artificial criaria número equivalente de novas funções. Para as profissões que sequer têm nome, de tão novas, há necessidade de pessoas muito preparadas. A escola não consegue cumprir essa função. Está imersa no anacronismo. Fazendo as crianças decorarem. Guardar na memória aquilo de que não vão precisar quando adultos. Sem pensar na insensatez que é priorizar a capacidade mnemônica: tudo está no Google e é fornecido em segundos. Com atualidade e confiabilidade que supera a dos docentes.
O milagre seria um acordar geral da lucidez que ainda resta e a implementação da Democracia Participativa. Reduzir o tamanho do Estado, principalmente da União, que muito gasta e nada produz. Administra mal o dinheiro suado dos que enfrentam a luta e são perseguidos com a burocracia assassina e com a mais elevada carga tributária do planeta.
Faltará dinheiro nos próximos anos. Para a grande maioria. Para aqueles que já detinham grandes fortunas, a crise até ajudou. A Revista Forbes publicou que os 8 mais ricos têm o equivalente à metade da população da Terra. Ou cerca de 3 bilhões e 600 milhões de seres humanos!
Keynes, tão levado a sério pelos economistas que estão mandando, dizia para seus netos: “Precisamos ter a coragem de atribuir à motivação “dinheiro” o seu verdadeiro valor. O amor ao dinheiro como posse, e distinto do amor ao dinheiro como meio para desfrutar os prazeres da vida, será reconhecido por aquilo que é: uma paixão mórbida, um pouco repulsiva, uma daquelas tendências meio-criminosas e meio-patológicas que geralmente são transmitidas com um calafrio ao especialista de doenças mentais”.
O mundo chegou a um estágio em que essa terceira mercadoria, a moeda, que foi tão útil para dinamizar o comércio, se transformou num vício para muito poucos e uma maldição para a imensa maioria.

José Renato Nalini é professore e presidente da Academia
Paulista de Letras