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Ato ‘golpista’ entra para a história política do Brasil

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Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Bras

Entidades e lideranças políticas da região repudiam atos de 8 de janeiro em Brasília

Desde que os movimentos contrários ao resultado da eleição se iniciaram após a definição das urnas, em outubro de 2022, os simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sempre procuraram deixar claro que não aceitariam aquele desfecho. Passaram, então, a promover acampamentos em diversos locais do país, principalmente em frente aos quarteis das Forças Armadas; tentaram criar impedimentos ao trânsito de veículos em rodovias; além de constante e ininterrupto ataque nas redes sociais aos principais agentes da política nacional.
No dia da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 12 de dezembro, parte desses manifestantes agiu de forma agressiva em Brasília, depredando bens públicos, incendiando veículos e ameaçando invadir a sede da Polícia Federal, como num prenúncio do que ainda estaria por vir nas semanas seguintes.
Sem o apoio esperado das Forças Armadas, a quem sempre pleitearam apoio numa eventual intervenção militar para impedir a posse e a sequência do governo comandado por Lula, no último domingo, dia 8 de janeiro, milhares de manifestantes se reuniram nas vizinhanças da Capital federal e rumaram em manifestação para a Praça dos Três Poderes, onde se encontram as sedes do Poder Executivo (Palácio do Planalto), Legislativo (Congresso Nacional) e Judiciário (Supremo Tribunal Federal/STF).
Sem reivindicações dirigidas ao governo ou às autoridades devidamente constituídas, os manifestantes invadiram as sedes dos três poderes e passaram, em atos de vandalismo, a quebrar suas dependências e dilapidar o bem público, atacando e destruindo obras de artes, móveis e tudo o que houvesse pela frente.

DESENROLAR

Em ato semelhante ao que acontecera um ano antes, em 6 de janeiro de 2021, nos Estados Unidos, quando manifestantes que questionavam a lisura na eleição que derrotou o então presidente Donald Trump invadiram o Capitólio (semelhante ao Congresso Nacional, no Brasil); os manifestantes em Brasília também tinham a intenção de, com o movimento, “derrubar” o governo já instalado sob o comando de Lula; porém de forma desordeira, que somente resultou em quebra-quebra e vandalismo.
Tratado pelas principais autoridades do país como atos golpistas ou terroristas, também se discute, de lá para cá, sobre a omissão das forças policiais e autoridades de Brasília que teriam facilitado a ação dos manifestantes.
O resultado disso vem sendo divulgado diuturnamente, como o decreto presidencial de intervenção na Segurança de Brasília, já aprovado pelo Congresso Nacional; a determinação do STF para afastamento do cargo do governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB); a prisão, no próprio domingo, 8, de mais de 1,5 mil pessoas com boa parte delas ainda sob tutela das forças de segurança na Capital Federal; a exoneração do secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres; o desmantelamento dos acampamentos em todo o país; dentre outras ações; todas com a promessa de que não só os autores da invasão, mas também seus incentivadores e financiadores serão penalizados pela ação.

MANIFESTAÇÕES

Como forma de valorizar a democracia e todos os princípios constitucionais brasileiros, inúmeras personalidades e entidades do país se manifestaram contrários ao movimento. Um dia depois do ocorrido, na segunda-feira, 9/1, o presidente Lula chegou a se reunir com todos os governadores (ou representantes deles) para, de forma uníssona, se manifestarem contrários à manifestação da véspera.
A Redação do jornal Página Zero recebeu dezenas dessas manifestações, como as dirigidas pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp); Confederação Nacional de Município (CNM); Sindicado dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp); Instituto de Justiça Fiscal; Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig); Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner); Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp); Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa); Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp); Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil 9ADVB-SP); Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC); Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU); Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (Cacb) em conjunto com Federação das Associações Comerciais do Estado e São Paulo (Facesp) e Associação Comercial de São Paulo (ACSP); Consórcio Intermunicipal da Região Oeste Metropolitana da São Paulo (Cioeste); etc; além de milhares de manifestações pelas redes sociais.
Na região Oeste da Grande São Paulo, por onde circula este jornal Página Zero, apenas os prefeitos de Carapicuíba (Marcos Neves/PSDB) e Itapevi (Igor Soares/Podemos) mantiveram registro de condenações aos atos praticados em Brasília; assim como o deputado estadual Emidio de Souza (PT) e a deputada federal Renata Abreu (Podemos).
Ainda que o dia 8 de janeiro de 2023 não tenha chegado ao fim; dado todo o desenrolar que ainda se promete em relação à punição dos envolvidos; ou mesmo para aqueles que acreditam que o movimento foi apenas o começo de uma tentativa de derrubada do poder atualmente instalado e que pode ainda se propagar; a data definitivamente estará registrada nos anais da história política brasileira. il

Manifestantes invadiram sedes governamentais na Praça dos Três Poderes – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil