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Lá fora já se usa!

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Humberto Pinho da Silva

Quando os elétricos circulavam na cidade do Porto, havia constantes reclamações: dizia-se que, além de serem barulhentos, os carris rompiam os pneus dos automóveis.
Resolveu-se, então, modernizar a cidade. Os velhos e rancheiros elétricos foram substituídos pelos tróleis. Eram bonitos, cômodos e silenciosos.
Todos quiseram experimentar a novidade. Começou-se, porém, a sentir-se saudade dos velhinhos elétricos: os tróleis eram silenciosos, pareciam gatos. Eram, por isso, perigosos, podiam causar fatais atropelamentos.
Então, disseram: os que circulam na cidade são os mais modernos e os melhores da Europa. Iguais aos de Viena de Áustria.
A murmuração cessou. Se eram iguais aos de Viena, eram bons.
Mas rapidamente se verificou que os tróleis, tinham muitos lugares sentados, mas poucos de pé.
Pensou-se aumentar os de pé.
Onda de protestos se levantou. Mas logo se acalmou, quando afirmaram ser iguais aos de Londres.
Se na capital britânica, os ingleses viajavam nessas modernas viaturas, o zé-povinho, pensou: se lá fora se usa, concordamos e aprovamos.
Vem a lengalenga a propósito da bacoquice nacional, de concordar com tudo o que se faz e se usa lá fora.
Os responsáveis, sabedores desse fenômeno psicológico, usam-no sempre que lhes interessa impor conceito ou pratica – lá fora já se faz.… e se faz, cá dentro também se deve fazer…
Desconheço se o mesmo acontece noutros países. No Brasil aprecia-se tudo o que é de fora. O que é importado é bom. Será por ser país irmão ou filho de Portugal?
O curioso é que lá fora já se usam muitas coisas e benéficas, e não se copia nem se ventilam.
Escuso-me de citá-las, já que são assaz conhecidas. Apenas duas vou mencionar: por que não se aproximam os salários e pensões dos países mais adiantados da Europa?
Por que não se copia o que melhor se faz lá fora? E só se discute: o aborto, gestação de substituição, vulgo: “barrigas de aluguer”, eutanásia e drogas leves?
São casos e casinhos para entreter, como faziam em Roma, com os gladiadores? Por que será?

Humberto Pinho da Silva é editor responsável pelo blogue luso-brasileiro “Paz”