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Dia dos Pais e Covid: nem todos têm motivos para comemorar

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Foto: Andréa Rego Barros/PCR/Fotos Públicas

Mais de 87,5 mil crianças perderam o pai para a Covid-19 no Brasil

Celebrado internacionalmente – ainda que em datas diferentes – o Dia dos Pais costuma reunir famílias para homenagear a figura paterna. No Brasil, para pelo menos 87,5 mil crianças e adolescentes, o próximo domingo, 8 de agosto, não será de festa.
Um estudo publicado na revista científica The Lancet estima que mais de 87,5 mil menores de 18 anos tenham perdido o pai para Covid-19 no Brasil. Considerando-se as crianças e adolescentes que perderam a mãe, ficando total ou parcialmente órfãs, o número sobe para 130 mil.
O levantamento realizado entre março de 2020 e abril de 2021 levou em consideração as taxas de natalidade e de mortes por Covid-19 em 21 países que somam 76,4% dos óbitos no mundo. No total, pelo menos 1,5 milhão de crianças no mundo perderam um dos pais ou avós responsáveis. No Brasil, 2,4 crianças a cada mil foram afetadas.
A figura paterna é essencial para o desenvolvimento emocional, social e psicológico de crianças e adolescentes. Para suprir a ausência do pai é necessário que outra pessoa assuma esse papel e ofereça carinho, apoio, proteção, companhia, cuidados e limites. O importante é que a criança ou adolescente tenha alguém em quem confiar e se inspirar.

TRISTEZA, REVOLTA E DICAS

“Celebrações como o Dia dos Pais podem acentuar sentimentos como a tristeza e até mesmo a revolta para quem vive o luto recente, principalmente nos adolescentes, mais propícios à rebeldia e à emotividade. Adolescentes que perderam o pai podem viver essa experiência de forma muito imprevisível”, diz a psicóloga Daniela Jungles, supervisora do Serviço-Escola de Psicologia do UniCuritiba – instituição de ensino Superior que faz parte da Ânima, uma das principais organizações educacionais do país.
Um ponto de atenção – continua a professora – é que adolescentes de forma geral têm dificuldades em compartilhar suas emoções ou buscar ajuda dos parentes; por isso, os responsáveis devem estar mais cuidadosos e atentos. “Sabemos que a adolescência é, em si, uma fase difícil, muitas vezes complicada por conflitos com os pais, por isso quando ocorre a morte de um deles nessas circunstâncias, o jovem se sente muito culpado, o que complica ainda mais o luto”.
Para que crianças e adolescentes se sintam amparadas e acolhidas neste Dia dos Pais, a psicóloga Daniela Jungles dá algumas dicas que vão ajudar os familiares a lidar com a situação. E cita:
– Encorajar crianças e adolescentes a expressar os sentimentos. Desenhos, brincadeiras, histórias, filmes e livros são boas ferramentas para ajudá-los a conversar sobre o que estão sentindo.
– Reuniões familiares, aniversários ou eventos como o Dia dos Pais fazem com que a criança sinta falta da pessoa falecida. Isso pode desencadear crises de choro, irritabilidade, insônia, pesadelos, crises de ansiedade, etc. Deve-se estar pronto para dar conforto e apoio nestes tempos.
– Oferecer à criança ou adolescente suporte fora da família e favorecer novos vínculos com pessoas que atuarão como um “substituto” para o pai falecido: um tio, um primo, um amigo da família, um professor, etc.
– Conversar sobre a morte não é fácil, mas é necessário. Abordar o assunto com sensibilidade e de forma simples. Ser o mais aberto e franco possível e deixar a criança ou adolescente conduzir a conversa.
– Incentivar a criança a falar e fazer perguntas. Basta responder o melhor que puder. Ser sincero. É bom não esconder que algumas coisas são difíceis de entender, mesmo para os adultos.
– Mesmo com toda a dificuldade de falar sobre a morte e a dor da perda que os próprios familiares estão vivendo, ter consciência de que as crianças têm o direito de ser incluídas em todas as circunstâncias da vida familiar, com os cuidados que a infância impõe.
– Crianças e adolescentes devem receber informações sobre a doença, a sua gravidade e até mesmo o fim da vida de alguém que amam e têm direito a participar de todos os ritos fúnebres que envolvem a morte.
– Deixar que as crianças e adolescentes expressem suas dores, medos, angústias e até curiosidades sobre o fim da vida. Ouvir as crianças e responder os seus questionamentos gera segurança, proteção e amor.
– Não se esquecer que cabe aos adultos estarem atentos às crianças e adolescentes enlutados e acompanhá-los afetuosamente durante a sua provação, ajudando-os a redescobrir o amor à vida.
– A vida tem fim, esta é a nossa única certeza, mas também a mais difícil de admitir. Se houver dificuldade de conversar sobre o assunto com as crianças e adolescentes, procurar ajude especializada.